Iniciantes é a versão original dos contos publicados em 1981 no livro Do que estamos falando quando falamos de amor. Naquela época os contos passaram pelas mãos do editor Gordon Lish, que modificou quase todos. O que rendeu ao autor, Raymond Carver, o título de minimalista.
Nesses contos Carver expõe o dia a dia de pessoas comuns. Pessoas que não fizeram nenhum ato heróico, simplesmente vivem. E o Carver é tão certeiro que começamos a pensar que a beleza está mesmo nisso: nas simples tarefas do cotidiano.
O primeiro conto do livro é “Por que não dançam?”. Aparentemente, um homem está tentando vender seus móveis e os coloca em exposição no jardim de sua casa, quando casal passa por lá e se interessam por alguns móveis.
“Uma coisinha boa” é o maior conto do livro. E também é um dos mais tristes. Nele, uma garoto é atropelado no dia do seu aniversário. A princípio ele parece bem, mas quando chegou em casa, dormiu no sofá e não mais acordou. Seus pais o levaram para o hospital e ficaram com ele. O médico tentava tranquilizá-los dizendo que o menino poderia acordar a qualquer momento, que não havia motivos para ele estar dormindo e que descartava a possibilidade de estar em coma. Passaram-se dias e o garoto não acordava. Quando começaram a aceitar que o garoto estava em coma, ele dá sinal de vida, mas algo inesperado acontece.
Em muitos contos, as coisas ficaram subentendidas, como no conto “Tanta água tão perto de casa”, em que um grupo de amigos saem para pescar e encontram no rio uma garota boiando na água, morta. Quando eles retornam para suas casas e avisam as autoridades, a esposa de um deles dá a entender que seu marido pode ter alguma coisa haver com a morte da garota, mas em momento algum ele confessa, apesar de agir de forma estranha. Então fica subentendido e é o leitor que tem que tomar uma posição escolher em quem acredita.
O conto “É meu” é o mais curto do livro, e é, de certa forma, o mais chocante. Nele, um casal está se separando, o marido está arrumando a mala para ir embora e quando termina diz para a mulher que quer o bebê. Ela diz que não e então os dois começam a disputar quem vai ficar com a criança, que até então estava nos braços da mãe, puxando ela de um lado para o outro. O autor encerra o conto de uma forma muito abrupta, cabendo ao leitor, novamente, tirar suas próprias conclusões do que aconteceu, mas só nos faz pensar no pior.
Foi o meu primeiro contato com os contos do Carver e foi um belo de um primeiro contato, diga-se de passagem. Agora quero ler seus outros contos publicados aqui no Brasil em 2010 pela Companhia das Letras, no livro “68 contos de Raymond Carver”. Iniciantes também foi publicado pela companhia das Letras, em 2009.
Escrevi um texto sobre o Raymond Carver no blog Delirium Scribens, do Raphael Dias. Nas palavras de meu amigo Arsenio Meira: “Os leitores terão uma ideia de que se trata de um escritor que sabia ser imprescindível dentro dos limites infinitos do seu mundo pessoal, tornando-se assim universal”.