Jovita Alves Feitosa: voluntária da pátria, voluntária da morte- José Murilo de Carvalho

O livro Jovita Alves Feitosa: voluntária da pátria, voluntária da morte, de José Murilo de Carvalho, é a publicação de estreia da Chão Editora no mercado literário. Ao estrear com uma obra que nos faz conhecer uma mulher que foi importante e inspiradora em sua época, mas que foi sendo esquecida ao longo do tempo, a Chão Editora nos mostra a que veio: trazer títulos que evidenciam a memória nacional por meio de Literatura e História.


José Murilo de Carvalho é historiador, cientista social e professor emérito da UFRJ, e nos entrega um livro bastante didático e bem organizado, que cumpre o que promete: tirar Jovita Alves Feitosa do esquecimento por meio de documentos. Além disso, também deixa indicações de outras obras nas quais poderemos conhecer mais desta mulher que, aos 17 anos, se voluntariou para ir lutar na Guerra do Paraguai, determinada a não deixar que os soldados inimigos seguissem desonrando as mulheres brasileiras do Mato Grosso. Para tal, Jovita precisou se vestir de homem e mesmo quando seu disfarce foi descoberto, não desistiu de seus planos e não aceitou ser colocada para fazer o que era considerado trabalho exclusivamente de mulher, vistos como mais fáceis e menos perigosos, como cozinhar e cuidar de feridos, por exemplo.

O livro é organizado de modo que de início o leitor tem contato com uma biografia publicada em 1865, escrita por Um Fluminense, pseudônimo de José Alves Visconti Coaraci. É neste mesmo ano, em julho, que Jovita se voluntaria para ir lutar na Guerra do Paraguai, aportando, desde então, em diversas cidades e províncias, sendo recebida em cada uma delas com curiosidade e homenagens. Era convidada para hospedar-se em casas e palácios de pessoas e políticos influentes, homenageada em peças de teatro, ganhou presentes de mulheres da sociedade, muitos poemas lhes foram dedicados. O que  não era imaginado para uma mulher de sua origem humilde e condição social.

Inicialmente foi aceita como voluntária e entrou no 2º Corpo de Voluntários do Piauí, vestiu-se como segundo-sargento, no entanto, após 37 dias desde que saiu de casa, dias que viveu na glória e sendo aplaudida, recebeu a notícia da Corte de que foi recusada para ser combatente. Ela ainda tenta recorrer, mas não há nada mais que se possa fazer, sua condição de mulher não a favorece na mentalidade patriarcal da época.

Jovita Alves Feitosa, descrita como “um tipo índio”, com “rosto redondo, uma cútis amarelada, cabelos curtos, crespos, e de um negro acablocado” (p.25), nasceu em 1848, em Inhamuns, no Ceará, e faleceu em 1867, no Rio de Janeiro, com apenas 19 anos, o que torna sua morte ainda mais triste. Foi uma vida curta, mas que certamente deve ter inspirado outras mulheres a batalharem por seus sonhos. Jovita foi considerada a Joana d’Arc brasileira. Conhecer sua história é conhecer a História do Brasil, principalmente a partir da década de 1860. Ser mulher naquele tempo era estar condenada a um único papel social.

O livro traz uma seleção iconográfica ilustrativa, com fotos e pinturas de Jovita, é recheado de notas bem organizadas que são bastante complementares e  explicativas. A mobilização que o autor faz das fontes foi primordial para saber o que estava sendo dito sobre Jovita pelos jornais da época. Por fim, ainda temos uma cronologia.

Por muito tempo a história de Jovita permaneceu desconhecida, ainda que algumas vezes tenha sido ficcionalizada. José Murilo de Carvalho e a Chão Editora, felizmente, trazem este excelente trabalho para corrigir esse apagamento da memória de quem foi Jovita Alves Feitosa. Como é dito na apresentação: “Jovita foi mulher polissêmica, aberta a múltiplas leituras. Ela merece ser bem mais conhecida” (p.11).

Confira o autor falando sobre Jovita:
         

O livro pode ser encontrado para compra nos site da Livraria Curitiba, Martins Fontes Paulista, Livraria Cultura, Livraria Travessa, Editora 34 e Amazon:
                                                              

5 respostas

  1. Oi Maria,
    Não conhecia a editora, mas é bom saber que a criatividade e inspiração ainda estão por aí, e mesmo com o mercado editorial não tão bem existe espaço para coisas novas. Não sou de ler história e biografias, mas curti a ideia da obra, desejo muito sucesso a editora.

    Beijokas

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Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

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