De autoria do rapper Emicida E foi assim que eu e a Escuridão ficamos amigas é um livro infantil publicado pela Companhia das Letrinhas em parceria com o Laboratório Fantasma e com ilustrações de Aldo Fabrini.
O livro conta a história de duas crianças em dois diferentes planos: uma vive na claridade e tem medo da escuridão e a outra vive na escuridão e tem medo da claridade. A história é contada por meio de rimas curtas e Emicida traduz com cuidado e clareza mensagens que podem ser compreendidas sem dificuldade pelas infâncias, pois além de uma escrita simples e muito objetiva, as ilustrações colaboram muito para o entendimento da história.
Uma das mensagens que o livro traz gira em torno de encontrar coisas boas na escuridão e na claridade, pois nenhum dos dois mundos é perfeito, mas ambos se complementam, de modo que podem ser vistos com a possibilidade de enxergar diferentes aprendizados em diferentes espaços, sejam eles conhecidos ou não, e não ter medo do que é desconhecido pode ser uma ferramenta propulsora de boas mudanças.
Além disso, Emicida expõe a personificação de sentimentos como a coragem e o medo de uma maneira muito inteligente. Na história até mesmo o medo fica feliz quando a coragem vence, trazendo para o leitor a percepção de que apesar do medo existir e fazer parte das emoções humanas, ele não deve ditar o cotidiano de ninguém. Como o próprio texto menciona: “o medo pode aprisionar”.
Leia também: Livros infantis com representações positivas de negritude
As ilustrações contam a história de maneira intuitiva, sem mesmo ler o texto é possível perceber como as imagens passam a mensagem. São muito coloridas e chamam a atenção do olhar antes mesmo de ler as rimas propriamente ditas. Aldo Fabrini, que ilustrou o livro, possui um traço muito específico, minimalista e ao mesmo tempo com textura, preenchimento e intenção para completar o sentido da história.
Particularmente gosto muito da forma como são as mensagens abordadas em E foi assim que eu e a Escuridão ficamos amigas são apresentadas para as crianças. A poeticidade de Emicida torna tudo mais leve e obras como essas, que tratam de temas um pouco mais delicados, podem ajudar as crianças a compreenderem melhor o mundo que as cerca, e qual é a função de buscar compreender suas próprias emoções. Livros que instiguem o desenvolvimento socioemocional da criança são extremamente preciosos para a possibilidade de construção de infâncias pensantes, que sejam protagonistas de suas próprias narrativas de forma ativa.