Mensageiros da morte- Marcos de Sousa

A narrativa começa no Rio de Janeiro, em setembro de 2016, com uma cena já em andamento e o suspense que será característico até o findar do livro. Logo no prólogo, o leitor depara-se com uma cena que é impactante:  a explosão do Cristo Redentor. Esse é o marco inicial para uma série de outros atentados  a diversos monumentos históricos ao redor do mundo, em países que são potências mundias: Estados Unidos, Japão, Itália, França. A única coisa que o leitor sabe, é que tais atentados estão ocorrendo por mandato do Chefe. Não se sabe quem é, mas que é uma pessoa extremamente inteligente, dada toda a trama armada para concretização de seus planos.
Após  os árabes, Síria e Irã, assumirem a autoria dos ataques, a ONU reúne os principais líderes dos países atingidos,  para decidirem quais serão suas posições diante dos ataques. Decidiram por uma ofensiva militar e assim inicia-se uma guerra. O Brasil, então, envia seu exército e convoca novas pessoas para alistamento.
Enquanto isso, está acontecendo nos EUA, a corrida presidencial. O atual presidente, Willian Tyler, compete com o novo candidato, James Fillmore.

Conhecemos Thiago, um típico jovem de classe média alta, mimado pela mãe, filho de um dos homens mais poderosos do Brasil e futuro herdeiro da Brasil Petros. Em sua primeira aparição, está levando uma bronca do pai por ter causado um acidente de trânsito que deixou vítimas fatais, mas Thiago comporta-se de forma displicente, deixando claro que não se importa com as vidas que interrompeu e dizendo que a família seria consolada com a indenização que receberiam.
Logo a seguir, conhecemos Enzo, um policial do BOPE, que após falhar em operação e não conseguir conciliar sua vida profissional com a vida familiar, é afastado do trabalho. Sua esposa, alcoólatra, cobra mais atenção ao filho, que presencia as brigas constantes do casal. Após um trágico acidente, Enzo encontra-se sem perspectivas na vida, até que com com os recrutamentos para serviços na guerra, vê uma nova chance de fazer-se útil.
Thiago, por armação do sócio de seu pai, vai servir no exército e assim, o destino dele e de Enzo se cruzam.

“Todos os policiais sabiam que, ao entrar na favela, suas vidas estavam em jogo, e a sorte é quem dava as cartas. Não podiam vacilar: qualquer barulho era motivo de armas apontadas e dedo no gatilho. Na guerra, não havia suspeitos: todos eram culpados”. (p.18)

Mensageiros da morte é o nome dado a um grupamento especial, composto por oito homens, que tinham como objetivo sair em missões para sondar o posicionamento do inimigo e com isso antecipar ataques. Thiago e Enzo fazem parte desse grupo. Em seu primeiro encontro desentenderam-se, mas ao longo do livro a relação dos dois vai melhorando. São os personagens mais bem trabalhados, que nos permitem acompanhar sua evolução ao longo da narrativa. Principalmente a de Thiago, que de um filhinho de papai idiota, transforma-se completamente. A guerra muda as pessoas e sua forma de se relacionarem com o mundo.

O autor brinca com o espaço-tempo, indo e voltando na narrativa e pontuando datas. Em um capítulo está no Rio, em outro está em Washington, Damasco ou Estados Unidos, em 2014 ou 2016. Recurso narrativo que promove fluidez na leitura e aumento do suspense. Além disso, fica a sensação de que o livro daria uma boa adaptação para o cinema. Conta, também, com capítulos curtos, que faz com que a leitura seja rápida e dinâmica.
O livro é narrado em terceira pessoa, o que permite vizualizarmos melhor o que está acontecendo em escala mundial e nos permite um certo distanciamento crítico.

“Excesso de caráter é desastroso, assim como a falta exacerbada dele. Contudo, o segredo está no equilíbrio”. (p.156)

Com uma narrativa mais do que concisa e extremamente adequada normativamente, o livro é permeado de suspense e surpresas do início ao final. Queremos saber quem é o Chefe, o motivo dos atentados e onde o autor quer nos levar com cada nova informação inserida, pois nada, absolutamente nada, é sem propósito. Quando percebemos que tudo se encaixa e começam a surgir explicações para alguns de nossos questionamentos, damos de cara com um epílogo que ao invés de nos acalmar, só nos faz ficar boquiabertos e desejar que a continuação saia o mais breve possível, pois além de terminar de uma forma surpreendente, o pensamento que fica é que se este é o romance de estreia do autor, os demais certamente serão tão bons quanto, ou quem sabe, até melhores.
É um livro de ficção que pulsa de realidade, com um enredo tão plausível, que guerra e jogos políticos vestem-se de iminência.

A diagramação é simples e confortável: Folhas brancas, letras com um bom espaçamento e tamanho. Capa que diáloga com a obra e digasse-se de passagem, em época de redes sociais, bastante fotogênica. A editora Aped fez um excelente trabalho, é uma pena que ela tenha encerrado seus trabalhos editoriais.

7 respostas

  1. Oiii Maria, tudo bem????
    Eu também estou no aguardo da continuação 🙂
    O Marcos é ótimo e a história dele além de super bacana ainda traz várias críticas sociais e eu adoro quando os autores fazem isso =D
    Então só desejo a esse menino muito e muito sucesso 🙂
    E com certeza o livro é super fotogênico hahahha
    Beijooos
    http://profissao-escritor.blogspot.com.br/

  2. Olá, Ana.
    Primeiramente, muito obrigado pela resenha. O simples fato de você ter tirado um pouquinho do seu tempo para ler o livro e também comentar com seus leitores já me deixa muito feliz.
    Em segundo lugar, muito obrigado por essas palavras tão positivas. Fico feliz que o livro tenha te ganho e que você tenha gostado tanto dos recursos narrativos utilizados. Muita gente acaba não gostando dessa brincadeira de ida e volta no tempo.
    Se tudo der certo, muito em breve a continuação do livro estará por aí. Espere muitas surpresas.
    Novamente, muito obrigado pela resenha!

  3. Já tive a oportunidade de ler o livro do Marcos e também gostei demais, estou aguardando a continuação e já li no comentário que ele fez na postagem que a mesma está saindo, fiquei bastante contente. Gostei demais da resenha.
    Abraços,
    Gisela
    Ler para Divertir
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  4. Que delícia ver esse blog se movimentando de novo.
    Adorei a resenha, você conseguiu esmiuçar bem os principais pontos da obra ainsa deixando aquela curiosidade. Fiquei muito feliz de ver uma obra dessas escrita por um autor nacional. Mas, ainda assim, não é o meu "tipo" de leitura.
    Capa está maravilhosa. Ela consegue fazer bastante sentido em relação a história!

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Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

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