Carolina Maria de Jesus nasceu na cidade de Sacramento, em Minhas Gerais, no dia 14 de março de 1914. Estudou somente até a segunda série do primário. Quando sua mãe morreu em 1937, migrou para São Paulo. Na nova cidade, na favela do Canidé, na zona norte, construiu sua casa com madeira, papelão, lata e tudo que pudesse servir.
Mãe de três filhos, catava papel para sobreviver. Foi nas latas de lixo que encontrou os cadernos que escreveu seu diário, no qual contava o dia-a-dia na favela, como os vizinhas a tratavam e tratavam seus filhos… Muitas vezes não conseguia dinheiro suficiente para comprar comida e ela e os filhos dormiam sem comer.
Foi descoberta em 1958 por Audálio Dantas, repórter do extinto jornal Folha da Noite, enquanto este fazia uma reportagem sobre um parque infantil.
Em agosto de 1960, o livro foi publicado. Foi sucesso de público e de crítica. Na primeira semana de vendas, o livro alcançou o número de dez mil exemplares vendidos. Foi traduzido para treze idiomas e Carolina se tornou conhecida mundialmente. Até Clarice Lispector foi lhe prestigiar pessoalmente.
Com o sucesso obtido com a publicação de seu livro, se mudou para para uma casa de alvenaria no bairro de Santana.
Mas logo foi esquecida, porque ela escrevia a realidade e a sociedade elitista daquela época não queria ouvir a realidade, principalmente da boca de uma negra advinda da periferia. Mas o reconhecimento que o Brasil não lhe dá é encontrado até hoje no exterior. Prova disso é o fato de que o livro dela é estudado nas salas de aula no Estados Unidos, com base no seu livro foi feito um documentário alemão, inédito no Brasil, “Favela: a vida na pobreza” (Favela- Das Leben in Armut), dirigido por Christa Gottmann- Elter, em 1971 .
No seu livro “Quarto de despejo- Diário de uma favelada”, ela nos relata de forma direta e sincera, a vida na favela. Impossível ler este livro e não se sensibilizar. Como falar de passar fome, se você nunca passou um dia inteiro sem ter o que comer? É muito realista porque é a realidade. A realidade que Carolina viveu. Por isso é tão forte e tocante.
Este ano de 2014 comemora-se o seu centenário. E Carolina aos poucos está sendo lembrada novamente.
Além de Quarto de Despejo, publicou também mais quatro livros que não fizeram o mesmo sucesso:
– Casa de Alvenaria (1961);
– Pedaços de Fome (1963);
– Provérbios (1963);
– Diário de Bitita (1982, póstumo).
Seu sonho sempre foi ser cantora e atriz, mas foi desencorajada de investir nesse meio. Mesmo assim, ainda gravou um disco em 1961. Pode ser escutado aqui.
Morreu em 1977, totalmente esquecida e de volta a pobreza. Havia vendido sua casa de Santana e estava morando em Parelheiros, uma das regiões mais pobres da cidade, ainda fora vista catando lixo na antiga rodoviário de São Paulo.
À título de curiosidade: A biblioteca do Museu AfroBrasil tem o nome dela.
Uma resposta
Será que a sociedade elitista de hoje não a esqueceria da mesma forma? Veja o Paulo Lins, que escreveu Cidade de Deus, a maioria nem sabe que é livro. E o Criolo, que aparentemente virou piada. Eu digo que o povo brasileiro tá na merda, mas é merecido. Vou procurar o livro dela, parece bem real.