O Haiti de Edwidge Danticat em “Clara da luz do mar”

Capa do livro "Clara da luz do mare" e foto da autora Edwidge Danticat

Em Clara da luz do mar, de Edwidge Danticat, acompanharemos a história da Claire, uma menina de 7 anos que mora com pai em um vilarejo do Haiti enquanto testemunhamos uma certa indecisão de seu pai com relação ao futuro da filha. Ele precisa decidir se o melhor é pensar no futuro de Claire, que no caso significa entregar a filha para uma mulher do vilarejo com mais condições financeiras do que ele, ou se ele mesmo irá tentar construir um futuro melhor para ela.

Iremos acompanhar ao longo da narrativa essa indecisão do pai, mas que ao mesmo tempo é uma narrativa que vai trazer um narrador onisciente com diversos pontos de vista, além de muitos personagens, sendo que todos eles conseguem nos passar um vislumbre da situação através de seus olhares, ou seja, através do ponto de vista de cada um deles. 

Não é exatamente uma narrativa em primeira pessoa, é sempre em terceira pessoa, mas o narrador parece que está sempre posicionado de um modo a nos mostrar o que cada personagem tá vendo, o que cada personagem está vivendo, então esse é um ponto que eu gosto muito na narrativa criada pela Edwidge Danticat. Além disso, uma das coisas que eu gosto na história é a forma como a autora consegue expressar os sentimentos de cada personagem, principalmente da Claire, enquanto ela conecta a história de cada personagem de uma forma que não resulta em confusão.

Clara da luz do mar é um livro que vai trazer discussões muito importantes e muito atuais, como a questão de violência sexual contra a mulher. O livro também nos faz refletir sobre esse lugar que é reservado às mulheres, e o quanto a sociedade ainda não está preparada para esse debate.

Confira essa resenha também em vídeo

YouTube player

Outros aspectos interessantes e muito importantes presentes na obra são a discussão sobre a diáspora, esse ato de você sair do seu país natal e precisar ir para outro por uma questão de sobrevivência não apenas física, mas também de sobrevivência financeira; e o papel das mulheres na sociedade, que é sem dúvidas uma discussão que nos provoca e nos faz ver o quanto que a sociedade é machista, não importa se você vive no Brasil, se você vive nos Estados Unidos ou no Haiti.

Por fim, é preciso dizer que ainda que a literatura haitiana ainda seja pouco conhecida aqui no Brasil, eu espero contribuir um pouco para que ela fique mais conhecida e chegue a mais leitores, já que estamos diante de uma literatura da melhor qualidade, em que podemos presenciar a inocência de uma criança de 7 anos e a conexão da vida dela com tantas outras pessoas, como o pai e a mãe, que além de todos os temas abordados, ainda existe também essa questão da maternidade que é muito bem desenvolvida.

Espero que vocês deem uma chance para essa leitura. Espero que vocês conheçam a escrita da Edwidge Danticat e tenham contato com mais literatura haitiana, e que a gente tenha mais obras de autores e autoras haitianas traduzidas no Brasil.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

R$ 5.829/mês 72%

Participe do Clube Impressões

Clube de leitura online que tem como proposta ler e suscitar discussões sobre obras de ficção que abordam assuntos como raça, gênero e classe, promovendo o pensamento crítico sobre a realidade de grupos minorizados.