O leitor do trem das 6h27- Jean-Paul Didierlaurent

Guylain Vignolles é funcionário de uma usina que destrói livros para a reciclagem. É um homem reservado e de poucos amigos. As únicas pessoas com quem conversa são o vigia da usina onde trabalha, Yvon, um senhor que só fala em versos alexandrinos e Giuseppe.

Guylain, no entanto, não gosta do trabalho que faz, não gosta de ter que destruir livros, por isso, sempre que possível, tenta salvar algumas páginas escondido de seu chefe, o senhor Kowalski. Lia as páginas que conseguia salvar, na ida para seu trabalho, no trem das 6h27. A leitura era feita em voz alta, portanto, todos os outros passageiros ouviam. Nisso, duas senhorinhas irmãs, ouvintes de muito tempo das leituras de Guylian, o convidaram para ler para elas na casa delas. Chegando lá, descobriu que elas moravam em uma casa de repouso e que teria que ler para vários velhinhos, que o acolheram super bem e gostaram muito da leitura, então combinaram que Guylain leria para eles uma vez por semana.

“Precisei rapidamente me render à evidência de que as pessoas em geral só esperam uma coisa: que você ofereça a imagem daquilo que elas querem que você seja”. -p. 123

Numa dessas manhãs, nosso protagonista encontrou no banco do trem um pen-drive e desde esse dia sua vida mudou. Nele estavam arquivos que eram uma espécie de relatos pessoais de uma mulher chamada Julie, que trabalhava como limpadora de banheiros em um shopping e escrevia sobre sua rotina nos tempos em que tinha livre. Guylian simplesmente ficou apaixonado pela escrita de Julie e no dia seguinte, já com os relatos impressos, os leu no trem. Todos os seus ouvintes saíram do trem maravilhados, da mesma forma que Guylain se sentiu após a leitura. Agora, estava determinado a encontrar Julie, porque, por mais que não a conheça pessoalmente, é inegável que a escrita dessa mulher mexe com ele de uma forma que há muito nenhum escrito foi capaz de mexer.

“(…) há algum tempo, descobri que exista neste planeta um ser com o poder de fazer as cores parecem mais vivas, as coisas menos sérias, o inverno menos duro,’o insuportável mais suportável, o belo mais belo, o feio menos feio, em suma,’de tornar minha existência miase bonita”. (-p. 173)

De início, pode parecer um pouco monótono, mas do meio até o final, a leitura começa a render. Ler esse livro foi uma experiência muito prazerosa e recompensadora. Fazia tempo que não lia uma história de amor tão especial, que não se ancorou em clichês e foi bastante realista, dadas as circunstâncias.
Publicado em 2015 pela Intrínseca, o livro possui um formato quase de livro de bolso, que não deixa a desejar na diagramação e na revisão.

2 respostas

  1. Oie, oie, oie !!!
    Eu morro de vontade de ler esse livro !!!
    Desde o ano passado, quando ele foi lançado, já foi parar na minha listinha de futuras leituras, mas o problema é que são tantos livros sendo lançados e tantos livros na minha lista que até hoje não consegui realizar a leitura dessa obra. :/
    Fiquei feliz por encontrar essa resenha aqui, me trouxe novamente aquela ânsia por conhecer essa história. Na próxima vez que adquirir novos livros, esse com toda a certeza estará no carrinho !!!

    Beijinhos
    Hear the Bells

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Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

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