Os Orixás Sob o Céu do Brasil- Marion Villas Boas

O livro começa com uma introdução que dá uma breve contextualização histórica de como os povos africanos foram trazidos como escravos para o Brasil e de como os portugueses, julgando-se muito espertos, pensaram que se misturassem povos de diferentes regiões, culturas e línguas, não haveria comunicação entre eles e não pensariam em armar um plano para fugir. O que os portugueses não previram é que essas culturas juntas formariam uma religião, o candomblé, que tem as divindades vindas da África e que com a influência do espiritismo, no Brasil, se formaria a umbanda.
O candomblé como religião com crenças surgiu no Brasil, na África havia o culto aos orixás, mas não era entendido como uma religião.

De acordo com a autora, “Os orixás são divindades entre Olorum, o Deus supremo, e os seres da Aiye (Terra)” (p.8). Desse modo, os seres humanos quando são incorporados pelos orixás lhes são conferidas as características dos mesmos e isso garante que haja uma comunicação entre os Deuses e os seres humanos.

Os mitos que se tem conhecimento hoje em dia, foram contados oralmente pelos povos Yorubás, um dos grupos étnicos da África Ocidental, e por isso, se pode ter variações de um mesmo mito. No Brasil, o culto aos orixás acontece nos terreiros ou casas e é orientado por um pai de santo, denominado babalorixá e uma mãe de santo, denominada iyalorixá.

Nesse livro, o leitor conhecerá os mitos dos doze orixás mais difundidos no Brasil. São eles: Oxalá, Nanã, Exu, Obaluaê (Xapanã), Oxóssi, Ogum, Iansã, Iemanjá, Xangô, Ossaim, Oxumaré e Exum.
O Deus supremo, Olorum, criou a partir do ar e das primeiras águas, Oxalá, um orixá vestido de branco e muito poderoso, que recebeu a missão de criar a Terra e todas os seres que existem nela. Logo em seguida, Olorum criou Nanã, igualmente poderosa, que recebeu a missão de controlar o portão entre a vida e a morte e por isso é muito temida.
Exu foi o terceiro orixá a ser criado e tem como missão ser o mensageiro entre os outros orixás e Olorum, para tal, é preciso que lhe sejam prestadas homenagens.

Exu foi um dos orixás que mais gostei de conhecer porque é um dos que foram mais demonizados pelos cristãos. Eu não diria que sem razão, afinal, ele é um orixá que faz maldades, mas também tem um lado bom e pode até ser protetor.

Achei interessante que os orixás têm ligação entre si, seja familiar ou de outro tipo, de modo que não dá para falar de um sem citar outro. Também achei bacana que não tem uma distinção concreta do masculino e do feminino, como é o caso do orixá Oxumaré ou do velho e do jovem, como é o caso de Obaluaê.

O livro certamente será uma boa leitura para quem está em busca de um primeiro contato com a temática dos orixás e dos mitos sobre eles, mas não se pode esperar ter um profundo conhecimento do tema só com esta leitura porque ela é bem introdutória, bem simples e direta, até porque o público-alvo são crianças na faixa dos 10 anos para cima.

As ilustrações, feitas por Sandro Lopes, estão muito bonitas, são visualmente muito atraentes e conferem uma beleza ímpar ao livro. Além disso, possui um glossário no final que ajuda a entender algumas palavras que podem ser desconhecidas.

Como falei em uma postagem anterior, estou em busca de desconstruir alguns preconceitos meus em relação às religiões de matriz africana que foram inculcados pela religião cristã e alimentados pelo desconhecimento do assunto. 
Este primeiro contato foi muito bom porque me fez aprender e me despertou o interesse de conhecer mais. Tenho em mente que não preciso fazer parte do candomblé, por exemplo, para conhecer essa religião. Posso ler, estudar e me informar para não reproduzir preconceitos e compreender melhor algumas de suas características. Por isso, para quem é candomblecista, peço desculpas se usei alguma palavra que possa ter soado mal, ou que passe uma ideia errada do que é realmente. Este foi meu primeiro contato e estou aberta a aprender sempre. Qualquer coisa, escrevam nos comentários ou me mandem um e-mail.
Até o dia 14/10, este livro estará com 35% de desconto no site da editora Biruta. Basta usar o cupom MARIA35 momento da compra. Aproveitem a oportunidade porque a leitura vale muito a pena!

4 respostas

  1. Oi, Maria!!
    O livro é bem interessante principalmente para quem é fã desse tema!! Adorei o livro que tem gravuras lindas e uma estória bem instigante!! Amei a indicação!!
    Bjos

  2. Oi.
    Eu não tenho religião, mas gosto muito de estudar sobre o assunto.
    Infelizmente não sei muito sobre a umbanda, mas o histórico parece ser muito interessante.
    Adorei saber sobre essa obra e pretendo conferir.
    Beijos.

  3. Olá, ainda não conhecia a obra, mas após ler sua resenha, fiquei muito feliz por saber que há esse livro sobre religiões de matriz africana e que ele pode ajudar a desconstruir os muitos preconceitos sobre a temática.

  4. As religiões africanas são vistas com tabu, geralmente de forma depreciativa e cheia de mitos. Macumbas e trabalhos são os mais comentados entre os que pouco conhecem, causando medo e desprezo. Eu mesma não tenho muito conhecimento mas já fui visitar um centro de Umbanda e vendo o lado historico é muito rico e tem uma simbologia incrivel. Esses rituais deveriam ser menos mistificado e mais respeitado, pois assim o "fazer o mal" está em todas as religioes e igrejas, ou seja, está nas pessoas e não na religiao em si. Pela resenha o assunto é outro, mas eu queria falar da importancia de mostrar o outro lado das crenças africanas e não só do contato dos negros com os portugueses.

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Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

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