Quando a música silencia- Élida Reira


Este é o livro de estreia da autora Élida Reira e uma das duas primeiras publicações do selo editorial independente, Arte Sabali Edições.

O livro é composto por 46 poemas, separados em grupos introduzidos por uma frase que dá uma pista do assunto que será tratado naqueles poemas que o compõem. Variados na forma e no assunto, possuem em comum uma linha norteadora, que é falar sobre a procura por uma identidade ancestral, sempre com a temática do silêncio e da música percorrendo todo o livro, duas coisas aparentemente opostos que se complementam: “Ouves o som da dança/ quando a música silencia?” (Versos do poema “Dança lenta”)
Do primeiro grupo, intitulado “As cidades nos cativam o olhar e nos marcam a pele”, fazem parte poemas que vão falar sobre política, o sentir-se deslocado onde deveria ser seu lar, espaços rurais e urbanos. Daqui, destaco o poema “Silêncio batuqueiro”, que é o primeiro a falar sobre essa antítese entre silêncio e música. O poema consegue passar a sensação do incômodo em se ter apagada sua história e esse foi um dos pontos que mais me marcou nessa leitura.

“Batuca em mim/ uma memória desconecta/ Sobre o solo mineiro./ É o silêncio”. (Estrofe do poema “Silêncio Batuqueiro”)

No grupo “A história nos molda e nós mudamos a história” o corpo é o principal assunto nos poemas “Mantra” e “33”, principalmente na tentativa de não ceder aos padrões estabelecidos socialmente e se aceitar. A temática do corpo e de sua aceitação volta a aparecer no poema “Vitrine”, do qual destaco os seguintes versos:

“Eu que sou tantas,/ deixei para trás/ aqueles formatos que não me cabiam mais”.

A partir do olhar pessoal da autora, o leitor é direcionado a enxergar com outros olhos assuntos que até então não havia parado para refletir profundamente, como foi o meu caso com a questão do apagamento da história das pessoas negras, não podermos saber nossa árvore genealógica porque simplesmente não há registros, por exemplo.
Gostei muito do livro como um todo, cada poema me tocou de uma forma diferente, me fez refletir sobre muitas questões a respeito do sentimento de pertencimento ou a ausência dele. Dos poemas que vão ficar guardados em um cantinho no coração, dou estaque para “Linhas”, um poema de amor e esperança; “Estrada”, que fala como o amor pode afetar uma pessoa. Também gosto bastante de “Nossa casa, nossa ruptura” porque lembra as vezes em que, sem nos darmos conta, paramos para refletir sobre a vida e quando voltamos a nós, percebemos a realidade ao redor e isso nos impulsiona à superação.

“O amor é trajeto longo/ não é trilha única” (Versos do poema “Trajeto”)

Se você gostou da resenha, se gostou do livro ou tem um amigo que sabe que poderá gostar, pode comprá-lo clicando aqui. A sua compra é muito importante porque a Arte Sabali Edições é um projeto editorial novo no mercado e tem como objetivo permitir que pessoas prejudicadas pela exclusão do mercado editorial possam ter seus escritos publicados, possam ter voz.

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12 respostas

  1. Parece ser um livro realmente lindo, Maria. Nunca parei para pensar sobre os problemas que envolve a árvore genealógicas dos negros no Brasil. Apesar de algumas pessoas não terem interesse em saber quem são os antepassados é muito diferente ser completamente privado de qualquer informação. Desejo sucesso para o projeto editorial, já começaram com um trabalho incrível!

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  2. Parabéns ao selo editorial, primeiramente. Adorei a resenha. Os quotes chamam a atenção de quem está lendo e desperta a curiosidade do leitor. A edição do livro está simplesmente linda demais, bem chamativa.

  3. Uau, eu não conhecia essa obra, mas o modo como você mencionou cada tema na resenha me deixou bastante curiosa para conferir! Adorei a edição e já vou adicionar esse livro na minha lista. Obrigada pela dica, bjss!

  4. Olá, tudo bem?

    Poesia não é muito minha praia, parei ali no Bandeira, não vou muito além disso.

    A questão da genealogia brasileira, ela é complexa, um país formado como o nosso foi tem poucos registros e quase todos recentes. São raros os que conseguem ir além de 1700.

    bjss

  5. Acho que poesias são os textos mais dificeis de se escrever pela carga emocional que é colocado em poucas linhas! Admiro demais quem escreve e fiquei encantada com sua resenha!

    Dica anotada!

    Bjos

  6. Oies!!!

    Eu não conhecia o livro e mesmo não tendo o costume de ler poemas ou poesias (faço muito pouco) gosto bastante!
    Fico feliz em saber que a obra mexeu contido e te deixou tão feliz. Eu mesma fico penando pra escrever uma resenha que faça jus quando uma obra me toca, fico feliz em ver a sua!

    Beijinhos,

  7. Olá tudo bem?

    Não sou de ler livros de poesias, poemas, etc mas esse me despertou meu interesse, sempre é bom sair da zona de conforto e acho que irei fazer isso com a leitura dessa obra, e irei indicar também a uma amigo que gosta de livros desse gênero!

    Bjss

  8. Olá! Nossa, realmente esse é um livro que deu aquela mega vontade em ler, é tão legal quando nos apegamos pela obra. Me fascinou por ser uma obra de poesias e já vou procurar o mais rápido pra ler.

  9. Oie, tudo bem?

    “Eu que sou tantas,/ deixei para trás/ aqueles formatos que não me cabiam mais”.

    Me apaixonei e já quero! Me deu muita vontade de ler e me apegar ao livro também kkkkk Não é o gênero que costumo ler, mas uma poesia as vezes cai bem 🙂

    Bjus

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Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

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