Resenha do livro “Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios”-Marçal Aquino

Edição:1
Editora: Companhia das Letras
ISBN:853590736X
Ano:2005
Páginas:232

O título “Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios”, é quase um poema e o livro em si, em decorrência de sua beleza, é um poema retratando uma história que não seria impossível de acontecer comigo, ou até mesmo com você.

Na cidade do Pará, em uma época de descobrimento do ouro, o que provocou uma “guerra” entre a mineradora e os garimpeiros, a personagem principal e também narrador de todo o livro, Cauby (como o cantor) conhece e se apaixona perdidamente por Lavínia.

Enquanto ele relata para os leitores os detalhes de sua relação com Lavínia, também nos expõe a história de Altino, chamado por ele de careca. As duas histórias se mesclam e no final do livro é até possível perceber uma semelhança entre as duas.

Tanto a história de Cauby, quanto a do seu Altino, retratam o amor em níveis extremos, nos fazendo pensar até que ponto nos deixaríamos levar em nome da mulher amada.

Algo que tem que ser levado em consideração, é o fato de que a Lavínia era casada com um pastor de igreja, Ernani, e mesmo o estando traindo, nunca deixou de ser grata a ele por tudo o que fez por ela e também o que justifica a sua negação ao pedido de Cauby de fugirem juntos para São Paulo.

Lavínia tinha dupla-personalidade, era bipolar e uma vez Cauby até presenciou um ataque epilético dela. O leitor fica sem saber o porque dessa sua loucura, mas no decorrer do livro, quando nos é apresentado o triste e revoltante quadro da vida de Lavínia quando adolescente, entendemos muito bem sua loucura e damos até razão a ela. Há pessoas que conseguem superar e esquecer, mas Lavínia não conseguiu.

É um livro que te deixa de boca aberta e te faz refletir sobre diversas áreas de nossa vida. Como por exemplo, o fanatismo religioso, que é apresentado de modo tão extremo, que nossa primeira reação é colocar a mão na frente da boca, sentir o coração apertar, ver a lágrima rolar e se indignar com a atitude tomada por uma igreja em defesa/honra de seu pastor.

O livro termina de forma satisfatória, no sentido do desfecho dialogar com a história, mas como as personagens acabaram  é de cortar o coração.

 

3 respostas

  1. O livro apresenta um título interessante, e o conteúdo também!Adorei a resenha, bem construída. E sempre leio livros que tratam assuntos do cotidiano de um novo olhar, são ótimos para ver quem é a sociedade.

    Italo,
    Blog Leitores Possessivos

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Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

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