Resenha “O Amante”- Marguerite Duras


Na China dos anos 30, uma garota branca, com quinze anos e meio, chapéu de feltro na cabeça, atrai  por sua beleza inocente, ainda inexplorada. Ela mora com a mãe e dois irmãos, mas estuda em um liceu e dorme em um pensionato.

A mãe nunca escondeu a sua preferência e amor incondicional pelo filho mais velho, mesmo sabendo que ele lhe roubava para para gastar com jogos e bebidas. Os filhos mais novos eram oprimidos por esse irmão. A menina o odiava tanto, que não escondia de ninguém, que desejava sua morte.

Naquela época o único meio de trasporte usado para viagens à longa distância, era o navio; e foi durante uma dessas viagens, enquanto ia de Sadec, onde morava sua família, para Cholen, onde estudava, que conheceu um chinês. O chinês que mudaria sua vida. 

Ainda no navio, ele tenta iniciar uma conversa. Está visivelmente intimidado pela garota, suas mãos tremem e é ali que a garota percebe que pode fazer o que quiser com ele. Depois ele lhe oferece carona em sua limusine preta e algum tempo depois ela passa a frequentar  o apartamento dele, a passar dias inteiros com ele, a jantar fora e dormirem juntos. Ele a ama, quase que inconsequentemente, mas desde o primeiro momento os dois sabiam que jamais poderiam ter um futuro em comum. Primeiro pela diferença de idade: doze anos, depois pela diferença étnica: ele é chinês e ela é branca e depois, porque por uma questão de tradição familiar, ele tinha que se casar com a mulher que o pai dele escolhesse. Além disso, todo dinheiro que ele tinha, era fornecido pelo pai.

Foi com ele que ela se descobriu como mulher, foi a ele que ela se entregou completamente, mas consciente de que não passaria disso: entrega, e não amor. Fez pelo dinheiro. Como uma mulher que se vende, porque ela precisava ajudar a família que passava por complicações financeiras.

No final do livro, cada um vai para seu canto e cumpre o seu destino. Ela se muda para a França com a família e ele se casa com a mulher que seu pai escolheu.

Em 1992 o livro foi adaptado para os cinemas sob a direção de Jean-Jacques Annaud. Assisti ao filme.  Não é bom comparar filme com livro porque o livro sempre vai ser mais completo, mas detalhista… só que nesse caso, o filme tem seus pontos fortes. Que é a linearidade e a explicitação. Ele é bastante explícito, principalmente nas cenas de relações dos amantes. Já o livro tem uma narração muito confusa, quase abstrata, oscilante, justamente porque a narradora não segue uma ordem cronológica dos fatos. Sem contar, que já no início a autora enrola muito, dá muitas voltas até finalmente chegar no assunto que vai ser tratado.

Este livro é de 1984, é um clássico e surpreende por seu teor autobiográfico.

5 respostas

  1. Oi Maria,

    Eu fiquei louca para ler esse livro! Até chegar no final da resenha e me desanimar… Eu não suporto embromação, até certo ponto dá para aguentar, e eu gosto de história lineares. Já li algumas coisas em que o escritor conta fatos separados, sem uma ordem cronológica e normalmente vêm cheios de abstração. O que só serve para confundi…

    Beijos, May.

  2. Lerei. Meu único contato com a Marguerite Duras foi pelo filme que ela escreveu em 1959, Hiroshima Mon Amour. Reparei agora em algumas semelhanças. O filme também trata de um casal inter-racial (uma francesa e um japonês), e a história é cheia de flashbacks – inovação na época. Excelente filme, caso você não conheça. Eu gosto de reparar nessas "taras" que certos autores apresentam. Murakami e as orelhas, Hemingway e as mulheres de personalidade forte, Marguerite Duras e os asiáticos, será?

  3. Não conhecia o livro, mas sua resenha me deixou intrigada. Apesar do final meio resignado, adoraria acompanhar uma história cheia de dualidades. Apesar dos pesares, acho que verei o filme, porque realmente fiquei curiosa. E se ele tem pontos fortes, como você disse, deve valer a pena. 😉

    O blog continua lindo, parabéns!
    Beijos.

    Thati;
    http://nemteconto.org

  4. Oi Maria,

    Seguindo teu blog, que aliás é lindo *-*'
    Adorei a resenha e ainda não conhecia o livro. A edição que você tem é essa em capa dura? Que lindo, é tão difícil encontrar livros antigos de capa dura e bem conservados hoje em dia. Vou pesquisar o filme, a história parece ser linda.

    Beijo,
    Mari Siqueira
    http://loveloversblog.blogspot.com

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Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

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