Título original: Sing Sing
Duração: 1h 47min
Ano: 2023
Direção: Greg Kwedar. Roteiro: Clint Bentley e Greg Kwedar
Elenco: Colman Domingo, Clarence Maclin, Sean San José, Paul Raci, e David “Dap” Giraudy
Nota: ★★★★☆
Em Sing Sing, o diretor Greg Kwedar — apenas em sua segunda experiência atrás das câmeras em um longa-metragem — leva o público para dentro da famosa penitenciária de segurança máxima de Nova York fundada em 1826, nos inserindo no dia a dia de detentos que, em busca de paz interior em um ambiente tão hostil, decidem fazer parte do RTA: Rehabilitation Through the Arts (Reabilitação Através das Artes), um programa sociocultural fundado por Katherine Vockins em 1996, que leva oficinas de arte em teatro, música, dança, artes visuais, escrita e poesia para mais de 230 homens encarcerados e opera em dez prisões de segurança máxima e média do estado de Nova York, como preparação para seus eventuais retornos à sociedade.
Um prisioneiro experiente que fornece sabedoria e habilidades de sobrevivência, uma briga no refeitório, um ataque nos chuveiros da prisão, guardas cruéis e um plano de fuga cuidadosamente elaborado seguido de uma sequência de perseguição por avenidas repletas de carros: estes são os clichês mais conhecidos no gênero “cinema prisional”, que felizmente não estão presentes em Sing Sing. Abandonando os estereótipos do gênero, e com isso desconstruindo os pilares que consagraram os filmes de prisão, o diretor, juntamente com o diretor de fotografia Pat Scola, que optou pelo uso do filme analógico em vez do digital, faz um ótimo uso de cenas em primeiríssimo plano, principalmente em John “Divine G” Whitfield — interpretado com uma potência silenciosa pelo sempre talentoso Colman Domingo (A cor púrpura, Selma, A Voz Suprema do Blues) —, um homem condenado por um crime que não cometeu, que encontra no teatro uma forma de resistência, sobrevivência e, acima de tudo, liberdade enquanto espera a resolução de seu caso.

Sem precisar recorrer a trilhas sonoras maniqueístas e violência policial, a obra, que conta com 90% do elenco formado por ex-detentos que participaram do programa no passado, se estabelece desde o início como um filme anti-prison — apesar de se passar em uma penitenciária onde cerca de 614 detentos foram executados na cadeira elétrica até a abolição da pena de morte em 1972 —, com cenas predominantemente ambientadas em um vasto palco de ensaios, o diretor está mais preocupado em nos mostrar a dinâmica entre os detentos em momentos que antecedem as apresentações, como por exemplo, a decisão pela próxima peça, os responsáveis pelo roteiro, a busca pelos figurinos e a construção dos cenários.
Para os fãs de teatro, o filme é um evento riquíssimo. Em primeiro lugar, por ser filmado dentro de uma prisão, a economia de cenários já nos remete a uma peça de teatro, portanto, existe uma metalinguagem (um filme de aspecto teatral sobre a criação e encenação de peças de teatro) que é aliada a um realismo documental graças ao estilo handheld camera escolhido por Pat Scola, nos aproximando da produção, que graças ao estilo de filmagem, sequer se parece com um filme, e mais com um documentário — o que se torna uma decisão acertada, já que vários ex-detentos que participaram do programa RTA no passado, decidiram aceitar a proposta do diretor e voltaram à Sing Sing para interpretarem versões ficcionalizadas deles mesmos. Em segundo lugar, algumas sequências das peças acabam tornando-se exercícios pessoais de acordo com o conhecimento teatral de cada espectador, uma vez que é divertido reconhecer entre outras peças, cenas de Sonhos de uma noite de verão, ou referências ao famoso Príncipe da Dinamarca, interpretado por Divine Eye — um dos casos em que um ex-detento interpreta a si mesmo —, inicialmente apresentado como um antagonista, mas que possui o arco dramático mais profundo da narrativa, principalmente quando divide a tela com Domingo.
Filmado em cerca de 20 dias, e com um orçamento de apenas 2 milhões de dólares, a obra arrecadou cerca de 4 milhões ao redor do mundo e foi aclamada de forma unânime pela crítica especializada, principalmente pela atuação de Colman Domingo, que indicado ao Oscar de melhor ator, decide o caminho da calmaria na construção de seu personagem. Longe do overacting, seus movimentos são pautados por uma determinação em busca pela liberdade, uma atuação poderosa, principalmente em momentos silenciosos em uma narrativa onde homens abandonados pela sociedade encontram no teatro uma forma de fazer suas vozes serem ouvidas.
Sing Sing está concorrendo ao Oscar nas categorias de Melhor Ator, Melhor Canção Original e Melhor Roteiro Adaptado. Como o próprio protagonista descreve, é um filme sobre o poder da arte e o que floresce no ser humano quando ela é despejada em seu coração.
Uma resposta
Não conhecia o filme, mas achei a premissa dele muito interessante. Particularmente adoro obras que mostram o poder transformador da arte. Enche meu coração de alegria ver que ainda tem pessoas que acreditam nisso
Lary’s Life