Sorte no Azar- Lilian Carmine

Sorte No Azar pode parecer um livro previsível, com um romance adolescente típico, elementos mágicos e circenses, além de ataques de fofura resultados da constante presença de gatos e cachorros, mas esconde uma pretensão muito maior da autora. 

 No romance, após um prefácio lúdico e misterioso, Lilian Carmine nos apresenta Mia, que divide seu tempo entre a escola, os livros, os animais e seus donos que frequentam o petshop acima de sua casa, local onde Mia trabalha durante a semana. Sua paixão e fissura por gatos acaba colocando em risco a vida de Lucky, nome dado pela protagonista ao gatinho que atravessou a rua despreocupadamente, hipnotizado pelo chamado de Mia, quase sofrendo um atropelamento.
A partir daí, a autora nos dá diversas dicas e curiosidades sobre o comportamento felino. A entrada de Lucky no romance e na vida de Mia traz um tom mais cômico, leve e mágico à narrativa, já que o bichinho parece seguir a protagonista por todos os lugares e nenhuma porta trancada consegue impedi-lo. Lucky também  traz consigo uma atmosfera de suspense, no momento em que Mia imagina conversar com uma versão personificada do felino durante as noites que passam juntos.
A intenção de Lilian Carmine, entretanto, é bem mais significante do que um simples romance de uma garota que ama animais. Durante toda a narrativa, através dos diálogos de Mia com os demais personagens de sua convivência, encontramos situações com as quais as mulheres devem lidar todos os dias. A protagonista, embora não explicitamente, é uma feminista de carteirinha e cumpre o papel de alertar o leitor dos absurdos e injustiças que envolvem a figura feminina, já que o tão familiar machismo nem sempre é percebido com clareza. Embora sonhe com o namorado perfeito, Mia não deixa a exigência de sua independência para trás, e faz questão de deixar isso claro para todos os garotos que se aproximam dela. 

Embora não nos traga grandes ações ou reviravoltas, não explore bem todo o universo mágico construído no prefácio e nos primeiros capítulos, e pudesse abusar um pouco mais do suspense, a história de Mia pode abrir nossos olhos para o absurdo de diversas situações e falas do cotidiano, que podem passar despercebidas por serem tão comuns e frequentes. O livro vai conquistar todos aqueles que amam aos seus bichinhos, através de uma história de amor leve que consegue transmitir uma mensagem necessária para a adolescência contemporânea.

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Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

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