Talvez precisemos de um nome para isso [ou o poema de quem parte] é um livro de poemas de Stephanie Borges, ganhador do IV Prêmio Cepe de Literatura de 2018, no gênero poesia.
O livro é dividido em dez partes, o que não quer dizer exatamente que é composto por dez poemas, uma vez que a impressão que passa é que se trata de um único poema dividido em dez partes já que os assuntos são continuados, impressão reforçada pelo fato de não haver letras maiúsculas ou pontos finais, um tipo de subversão da linguagem que faz pensar que cada poema é a continuação do outro, de modo que o livro seria um único grande poema.
O livro é dividido em dez partes, o que não quer dizer exatamente que é composto por dez poemas, uma vez que a impressão que passa é que se trata de um único poema dividido em dez partes já que os assuntos são continuados, impressão reforçada pelo fato de não haver letras maiúsculas ou pontos finais, um tipo de subversão da linguagem que faz pensar que cada poema é a continuação do outro, de modo que o livro seria um único grande poema.
Este grande poema de Stephanie Borges tem como temática principal o cabelo crespo ou cacheado e, consequentemente, as mulheres que têm esse tipo de cabelo. Para quem não está inserida neste público com o qual a obra conversa diretamente, pode causar estranheza que um livro de poemas tenha como principal temática algo que pareça tão trivial quanto os fios de cabelo, mas é justamente aí que mora o engano, pois é a partir desse grande tema que a poeta adentra assuntos políticos e faz uma crítica contundente e provocativa a todo um sistema que é organizado para manter os fios os mais baixos possíveis, evidenciando a quem serve que mulheres com cabelos crespos tenham seus fios alisados.
A forma com que o poema é estruturado foge das convenções. Borges nos entrega uma composição em versos, mas que pode ser entendida como um poema em prosa devido a sua ausência de rimas e versos que não seguem um tamanho padrão, com forte presença de enjabement, recurso estilístico muito utilizado pela poeta. É um livro subversivo e inovador em muitos aspectos, linguagem, estrutura e forma.
Nos versos de Borges encontramos segredos de cuidados com os cabelos, que incluem receitas caseiras e dicas práticas de como manter os fios hidratados. Ao mesmo tempo que, em um tom provocativo, evidencia o que a sociedade e a indústria fazem: provocam o ódio aos fios naturais para depois venderem seus produtos.
Além de falar sobre tamanhos de cabelos e como a extensão do fio influencia na forma como a mulher é vista socialmente, o poema também traz reflexões sobre perdas e partidas, sobre pensar novas formas de viver, trazendo metáforas marinhas e relembrando mitos, como o da Medusa.
Um dos interlocutores diretos dessa obra de Stephanie Borges é o livro Esse cabelo, de Djaimilia Pereira de Almeida, o qual tem trechos transformados em versos no grande poema que é o Talvez precisemos de um nome para isso. No livro de Pereira a autora relembra momentos antes e depois de sua tomada de consciência de que tinha um cabelo crespo quando o normalizado era ter lisos e a constante tentativa de alisá-los para se enquadrar em um padrão não tão fácil de atingir.
Um dos interlocutores diretos dessa obra de Stephanie Borges é o livro Esse cabelo, de Djaimilia Pereira de Almeida, o qual tem trechos transformados em versos no grande poema que é o Talvez precisemos de um nome para isso. No livro de Pereira a autora relembra momentos antes e depois de sua tomada de consciência de que tinha um cabelo crespo quando o normalizado era ter lisos e a constante tentativa de alisá-los para se enquadrar em um padrão não tão fácil de atingir.
Que nome dar para o prazer de fazer/sentir cafuné em nossos cabelos crespos? Há quem diga que dengo pode ser uma opção, mas acho que vai além disso, e Stephanie Borges é certeira quando diz que “talvez precisemos de um nome para isso”.
Além de poeta, Stephanie Borges é jornalista e tradutora. Traduziu os livros Olhares Negros: raça e representação, de bell hooks (editora Elefante), Irmã Outsider, de Audre Lorde (Autêntica, no prelo) e ensaios da poeta Claudia Rankine (Revista Serrote, Apocalipse?).
Interessou-se pelo livro? Compre no site da Livraria Travessa.
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