Teatro Grátis: Quando Quebra Queima

Arte feita a partir da foto de perfil do Facebook
Cheguei no centro por volta das 17h e da esquina da rua 24 de maio, escutei um jogral. Alguém dizia alguma coisa e um grupo repetia. Era a ColetivA Ocupação divulgando a apresentação de Quando Quebra Queima, este espetáculo de teatro-dança-luta que aconteceria ali mesmo no SESC algumas horas depois. Híbrido, é difícil de definir em qual linguagem artística este trabalho se encaixaria mais.
A temática é política, e o espetáculo é construído por estudantes que viveram o processo de ocupações e manifestações do movimento secundarista em 2015 e 2016. Apesar disso, seria possível dizer também que a partir deste despertar para as questões sociais, o espetáculo também aborda a adolescência como um período de transformações e experiências. Nos primeiros momentos de espetáculo, os jovens em cena comentam “Eu gosto de desenho”, “Eu gosto de correr”, “Eu gosto de pular” e também mostram fotos e comentam o que mudou durante as ocupações, abrindo um caminho de empatia entre público e temática do espetáculo.
Foto: ColetivA Ocupação
Para quem acompanhou as ocupações por meio da mídia ou para quem tem mais contato com movimentos sociais e instâncias de decisão coletiva, uma das cenas seguintes é interessantíssima e retrata uma assembleia e parte das questões envolvidas nas ocupações, geridas por secundaristas. Questões como os direitos dos estudantes e dos grupos oprimidos pela sociedade, mas também a melhor forma de cozinhar macarrão, haja vista que durante as ocupações os secundaristas dormiam, comiam e organizavam atividades dentro da escola, inclusive, os necessários mutirões de limpeza.
A peça é bastante dinâmica e propõe um tanto de movimentação e interação do público pelo espaço, outros elementos do cotidiano das ocupações também se transformam em cena como os piquetes feitos com cadeiras, os atos que aconteceram nas ruas como protesto e os momentos em que a polícia invade as escolas ocupadas.
Particularmente gostei bastante de uma cena sobre os muros que dividem a escola e a rua. É uma cena extremamente poética e inspiradora. Essa cena explicita a importância de refletirmos sobre o papel da educação e o que é a escola que temos hoje, um lugar que se parece muito com prisões.
Vale dizer que o teatro, bem como outros espaços, negam um tanto a participação dos jovens ou exploram negativamente esta participação. Quando Quebra Queima é um espetáculo que está abrindo mais espaço, mostrando um trabalho coletivo e bem feito. Os atores e atrizes estão seguros em explorar as possibilidades dos corpos em cena e em se aproximar do público, falar olhando no olho.
A área de convivência do SESC estava cheia de jovens assistindo o espetáculo. Penso que Quando Quebra Queima também está contribuindo para a formação de público. Neste momento em que a educação, a arte e a cultura estão sendo duramente afetadas, a existência, bem como a valorização de um espetáculo como este, é de extrema importância.
Amanhã (30/11/2018) é a última apresentação de Quando Quebra Queima no SESC 24 de Maio e é grátis. Os ingressos serão distribuídos 1h antes do espetáculo.
QUANDO QUEBRA QUEIMA
Sexta, 30 de novembro. 20h.
SESC 24 de maio: Rua 24 de maio, 109. República. São Paulo.
Criação e Performance
Abraão SantosAlicia EstevesAlvim SilvaAndré Dias de OliveiraAriane FachinettoBeatriz CameloGabriela FernandesHeitor de AndradeIcaro PioLeticia KarenMarcela JesusMatheus MacielMayara BaptistaMel OliveiraPedro Veríssimo.
Direção
Martha Kiss Perrone
Dramaturgia
coletivA ocupação
Som/Performance live
André Dias de Oliveira, Heitor de Andrade e Martha Kiss Perrone
Vídeo
Martha Kiss Perrone, Fernando Coster e Alicia Esteves
Iluminação
Alessandra Domingues
Preparação Corporal
Martha Kiss Perrone/Natália Mendonça
Produção
Otávio Bontempo
Local: Área de Convivência (3º andar)
Duração: 60 min.
Retirada de ingressos uma hora antes na Central de Atendimento.
LIVRE

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Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

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