Teatro: Na cama


Texto por Mayra Guanaes
Confesso que não gosto de peças e filmes românticos e fui assistir Na cama porque já conhecia o trabalho da Cristiane Wersom. 
Superado meu preconceito inicial, me senti curiosa porque se trata da adaptação de um filme chileno que diziam ser muito bom e como me interesso bastante pelas produções artísticas dos países vizinhos, cheguei a pensar “Quais serão as proximidades entre as relações entre casais chilenos e brasileiros?”. Já respondo: aparentemente, muitas.
Daniela e Bruno se conhecem em uma festa de casamento e logo após vão para um motel. A peça retrata a conversa que eles têm dentro do quarto e dialoga bastante com questões do mundo contemporâneo, das relações casuais, efêmeras e líquidas. 
Daniela (Cristiane Wersom) e Bruno (Pedro Bosnich). Foto: Kelson Spalato

No meio da madrugada se perguntam: “Mas quem pagaria para ver o que as pessoas fazem no motel?”.
É bem verdade que os motéis não são um lugar cuja grande finalidade seja ficar conversando e o diálogo desse casal parece surgir porque não há muito o que fazer naquele intervalo quase ocioso entre uma relação sexual e outra. É nesse momento de vazio que a conversa se inicia a partir de assuntos prosaicos como nomes e filmes. No entanto, ao decorrer daquela conversa quando os personagens comentam fatos anteriores de suas vidas, a peça se mostra uma grande possibilidade de reflexão sobre escolhas que fazemos e quais as suas consequências. 
O teatro ainda é um lugar de muitas emoções e reflexões, esse lugar de encontro com questões que estão dentro de nós e por coincidência, muitas vezes estão ali, no palco também. Ri bastante porque me identifiquei muito com o que vi, mas também porque Na cama é uma peça leve, que utiliza o humor de um jeito muito fino. 
Tanto Cristiane Wersom quanto Pedro Bosnich parecem muito à vontade em cena, e tudo combina, o texto com as piadas, o cenário onírico e poético que nos cativa, chamando atenção junto com um desenho de luz lindo, assim que entramos na sala de espetáculo.
Fiquei com muita vontade de assistir o filme – En la cama – que originou a peça. É possível que a experiência de assistir um trabalho bom em cena, não se encerra no momento em que voltamos para casa.
Foi muito bom dividir a cama com este casal, recomendo esta peça, portanto.
Na cama
Texto: Julio Rojas
Direção: Renato Andrade
Elenco: Cristiane Wersom e Pedro Bosnich
Teatro Vira da Lata
Rua Apinajés, 1387
Sumaré
R$ 40 e R$ 20 (Meia)
Quintas, às 21h
Até 29/11

Uma resposta

  1. É interessante como estas pequenas coisas do nosso dia-a-dia resultam em crônicas de tão boa qualidade, e tão inteligentes. De fato, uma peça que gostaria de assistir.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

R$ 5.829/mês 72%

Participe do Clube Impressões

Clube de leitura online que tem como proposta ler e suscitar discussões sobre obras de ficção que abordam assuntos como raça, gênero e classe, promovendo o pensamento crítico sobre a realidade de grupos minorizados.