Visita ao Quilombo Brotas

No dia 21 de outubro, tive a oportunidade de visitar e conhecer o Quilombo Brotas, localizado na cidade de Itatiba, em São Paulo.
A visita foi planejada pelos professores da área de Educação, da Universidade Federal de São Paulo, portanto, era voltada para os alunos de Pedagogia, mas os alunos que não eram desse curso e que faziam parte do Núcleo Negro da Unifesp, também foram convidados, o que foi o meu caso.

Chegamos por volta das 11h da manhã e fomos direto para a casa de um dos moradores de lá, com quem a visita tinha sido articulada. Num primeiro momento, fomos recepcionados por esse morador, que nos explicou um pouco da história do quilombo, enfatizando o fato de ser um quilombo urbano e contando um pouco das dificuldades enfrentadas.

Depois, enquanto algumas pessoas do grupo se disponibilizaram a ficar responsáveis pela preparação do nosso almoço, o restante foi fazer uma visita guiada por outro morador do local.
Frente da casa
Conhecemos a casa onde morou tia Lula, a mulher que fundou o quilombo. Ela foi uma ex-escrava, matriarca e mãe de santo, que juntamente com seu marido, depois de libertos, compraram o terreno do atual quilombo. Também conhecemos o espaço onde eram feitas as práticas religiosas. E caminhamos pelo espaço natural. 
Parede onde eram penduradas as canecas nos pregos
Antigamente, por lá passava um rio que era usado para auxiliar nas práticas religiosas, mas depois da construção de um hidrelétrica lá perto e também por ser muito utilizado pelos moradores de lá, o rio foi secando e atualmente só há uma pequena nascente.

Casinha na beira do rio onde eram feitas as práticas religiosas

Depois do passeio guiado, almoçamos e fomos conhecer e conversar com dona Ninha, que é a moradora mais velha do quilombo e neta de Tia Lula. Na conversa, ela contou como eram as coisas antigamente e como as mulheres de lá eram incentivadas por Tia Lula a serem independentes e não se submeterem a nenhum homem. Eram incentivadas a saírem do quilombo para ir à cidade trabalhar, mas se precisassem, poderiam voltar que sempre seriam abrigadas.

Cipós

Antes, o quilombo era afastado da região urbana da cidade, mas em decorrência da expansão imobiliária, atualmente é cercado de casas de ambos os lados, o que evidencia ainda mais sua resistência em uma sociedade que talvez não entenda sua importância histórica.

Sem dúvidas, poder conhecer esse espaço e sua história, foi uma experiência muito marcante e significante para mim e imagino que para os meus colegas negros também. Saber da nossa história e de quem veio antes de nós é fundamental para continuarmos lutando por um mundo mais justo, onde não sejamos julgados por nossa cor. Fato é que enquanto houver racismo, haverá resistência e luta.
Tentativa de foto panorâmica

Se alguém tiver interesse em conhecer mais da história do Quilombo Brotas, tenho algumas bibliografias acadêmicas sobre ele. Só me escrever um e-mail pedindo que enviarei com o maior prazer.

7 respostas

  1. Deve ter sido uma experiência inesquecível, Maria! Muito legal ver e saber que existem professores voltados para uma prática fortalecedora/enriquecedora que vai muito além da sala de aula.

  2. Oi, Maria

    Eu estava procurando alguma coisa sobre essa comunidade e encontrei seu blog. Gostaria de receber bibliografias acadêmicas sobre a comunidade, como você colocou. Gostaria de conhecer mais sobre eles. Já trabalhei com várias comunidade quilombolas e tenho um carinho especial. Agradeço a gentileza a que se propôs. Grande abraço.

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Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

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