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Melhores leituras de 2021 + menções honrosas

Aqui a tradicional lista de melhores leituras da equipe Impressões de Maria. Cada membro indicou cinco títulos como as melhores leituras do ano, seguido de duas menções honrosas.

Esperamos que os livros citados aqui sejam considerados nas suas leituras de 2022 e também vamos adorar saber caso já o tenha lido. Como sempre, é muito bom ver o quanto prezamos pela diversidade de autores e histórias em nossas leituras e que em 2022 isso possa continuar, que nossas leituras sejam feitas de forma consciente e política, como tudo na vida.

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Maria Ferreira

1 – Seja homem, JJ Bola

Nesse livro o autor congolês radicado em Londres JJ Bola fala principalmente sobre masculinidades negras. Gosto que o autor faz com que a discussão sobre masculinidade seja bem ampla, relacionando com temas como amor, política, igualdade de gênero e feminismo, assim como traz à tona a existência dos homens trans e onde eles ficam nessa concepção de masculinidade que é muito excludente.

2 – Um feminismo decolonial, Françoise Vergès

Ler esse livro foi um divisor de águas para o meu entendimento sobre as opressões que recaem sobre as mulheres racializadas. Para além disso, é um livro para  relembrarmos o quanto as mulheres são as responsáveis por fazerem o mundo funcionar. Se as mulheres racializadas pararem de trabalhar, o mundo também irá parar. Essa foi uma leitura que fiz para o Clube Leituras Decoloniais, clube de assinatura recorrente no Catarse. 

3 – O olho mais azul, Toni Morrison

Esse livro é muito doloroso porque mostra o quanto o racismo pode afetar psicologicamente as crianças negras. Nele, Pecola Breedlove, uma menina negra com uma família desestruturada, almeja mais do que tudo ter olhos azuis porque acha que assim será vista como bela. Todas as violências que recaem sobre ela e sobre as pessoas que a rodeiam é de dilacerar o coração porque infelizmente é uma história que continua atual.

4 – Castas: As origens de nosso mal-estar, Isabel Wilkerson

A autora compara os Estados Unidos, a Índia e a Alemanha nazista para evidenciar o fato de que desde a formação do Novo Mundo até os dias atuais é a noção de casta que define nossas vidas e a forma como se organiza todas as instâncias da sociedade. A escrita de Isabel Wilkerson é certeira. A sua forma de narrar, de apresentar fatos, de contar histórias, de estabelecer conexões e relacionar acontecimentos me impressionou. Ler esse livro é como estar frente a frente com a autora, em uma conversa em que a cada página nos faz refletir sobre uma nova informação que até então desconhecíamos. Saiba mais aqui.

5 – Gameleira-branca – Sofia Aroeira

Livro de estreia da autora, muito bem escrito. Gostei da forma como a narrativa é envolvente ao falar sobre as mulheres de uma família. Para além disso, estabeleci desde o início uma relação de identificação com a protagonista e sua história de vida, uma vez que ela vem de uma vila no interior da Bahia e mudou-se para São Paulo, onde morou por muito tempo até retornar à sua cidade natal.


Menções honrosas

Torto arado, Itamar Vieira Junior

A história de Bibiana e Belonísia permanecerá comigo por um longo tempo, mais do que isso, o Brasil retratado por Itamar me encantou e ao mesmo tempo me revoltou por saber que muitas das injustiças narradas ainda são reais. A sensibilidade com que Itamar escreve é profundamente tocante.

Se Deus me chamar não vou, Mariana Salomão Carrara

Esse livro traz a inocência da infância e muitas vezes o quanto nessa época tendemos a transformar algo numa coisa muito maior e mais grave do que ela é. A escrita da autora é tão poética que é uma delícia ler, nem vemos as páginas passarem na medida em que conhecemos uma garota


William Alves

1 – Stone Butch Blues, Leslie Feinberg
Romance seminal para entender um pouco da cultura trans, lésbica e butch, Stone Butch Blues é um livro cru e violento que retrata não somente a cultura daqueles grupos como também o feminismo, o transfeminismo, a sexualidade, o desejo e a vontade de se sentir acolhido quando se é considerado um outsider na sociedade cisheteropatriarcal. Inspirado na vida de Leslie Feinberg, o romance acompanha a jornada épica de Jesse Goldberg, uma adolescente que é expulsa de casa pelos pais após eles descobrirem que ela é uma lésbica Butch.

2 – Street Transvestite Action Revolutionaries (STAR): Survival, Revolt, and Queer Antagonist Struggle, Marsha P. Johnson e Sylvia Rivera
Uma coleção de entrevistas e ensaios de Marsha P. Johnson e Sylvia Rivera, duas transexuais (uma negra, outra latina) mundialmente conhecidas pelo seus papéis na luta pelos LGBTQIA+. Ambas são as responsáveis pela Revolta de Stonewall, levante que deu início ao que hoje é conhecido como Movimento LGBTQIA+. Street Transvestite Action Revolutionaries (STAR): Survival, Revolt, and Queer Antagonist Struggle merece imediatamente uma tradução em português, uma vez que se não fossem por elas, não existiria o movimento como conhecemos hoje.

3 – Um homem só, Christopher Isherwood
Clássico LGBTQIA+ absoluto; um romance introspectivo e triste — ainda que surpreendentemente engraçado —, devidamente embebedado em fontes virginiawoolfianas que tem como tema central a perda — a perda de um amor, a perda da juventude, a perda de identidade, a perda da vontade de viver. No decorrer de vinte e quatro horas conhecemos George, um professor de inglês de meia-idade que, vivendo no sul da Califórnia nos anos 60, tenta achar meios de lidar com a morte trágica de seu parceiro, Jim, ocorrida há um ano. 

4 – O quarto de Giovanni, James Baldwin
Lançado em 1956, O Quarto de Giovanni, segundo romance de James Baldwin, conta a história de David, um rapaz americano que vive em uma Paris do pós-guerra enquanto Hella, sua namorada, se encontra em viagem pela Espanha repensando o futuro de seu relacionamento. David precisa lidar com suas frustrações relacionadas à sua sexualidade e ao seu relacionamento com Giovanni, um garçom italiano que ele conheceu em um bar gay. Após se conhecerem, David passa a viver com Giovanni, porque mesmo sendo de família de classe média, seu pai se recusa a enviar o dinheiro do filho. Somado aos detalhes acima, ainda existe um aspecto que transforma o romance em tragédia: Baldwin estabelece, já nos primeiros parágrafos, todo o rumo da história: Giovanni está morto e Hella abandonou David, partindo para os Estados Unidos. Para David, o que sobra é a solidão. 

5 – Things Have Gotten Worse Since We Last Spoke, Eric LaRocca
Uma novela ainda sem tradução no Brasil, Things Have Gotten Worse Since We Last Spoke pode ser considerada uma história de terror surrealista sobre possessão, submissão e maternidade, na qual um casal de lésbicas aficcionadas por sadomasoquismo se encontram em um chat anônimo nos anos 2000. Uma relação aparentemente sadia acontece, até que devido às inseguranças e à vontade de gerar uma criança faz com que a relação se transforme em um verdadeiro pesadelo para as personagens e para nós, os leitores. Uma delas está definitivamente gerando uma vida, mas será uma vida humana?


Menções honrosas

Não Digam que Estamos Mortos, Danez Smith
Danez Smith Smith escreve não apenas sobre a sua vivência à margem enquanto negre, não-binárie e soropositive, elu também escreve sobre a violenta e racista polícia norte-americana, que coloca um alvo nas costas de cada corpo negro assim que ele coloca os pés fora de casa. Elu ainda escreve sobre uma variedade de temas, sendo sexo, sexualidades, objetificação do corpo negro apenas alguns deles.

Aos meus homens, Marcelo Ricardo

Em Aos meus homenssoberbo livro de poesias, Marcelo Ricardo faz um belo, tocante e importantíssimo trabalho sobre o negro gay afeminado no Brasil. Mais do que colocar o coração em suas palavras, Marcelo direciona seu olhar aos tipos de comportamentos e masculinidades que são despejadas — quase sempre sem permissão — nos jovens negros brasileiros enquanto, através de poemas singelos, ainda que muitas vezes alarmantes, analisa temas como a objetificação do corpo negro masculino, paternidade, ancestralidade e relações amorosas na era dos aplicativos de encontro, além de subverter a ideia social e sexualmente negativa já pré-concebida acerca do homem negro no imaginário popular.


Mayra Guanaes

1 – Nojo, Divanize Carbonieri

Uma voz narrativa que faz uma série de críticas a respeito dos corpos de outras pessoas, demonstrando suas próprias concepções sobre o que acredita ser feio ou bonito. Em muitos momentos a voz diz ter nojo e daí vem o título, do nojo, da vontade de não olhar profundamente para algo. Expondo muitos dos julgamentos feitos pela sociedade, típicos principalmente em quem tem a mania de cuidar mais da vida alheia do que da própria vida, esse livro mostra a experimentação de linguagem e ousadia da escritora Divanize Carbonieri.

2 – A rosa mais vermelha desabrocha, Liv Strömquist

Neste livro, a autora analisa o amor nos tempos do capitalismo tardio procurando responder:  por que as pessoas se apaixonam tão raramente hoje em dia?

Uma investigação teórica apresentada em quadrinhos, cheio de humor, crítica social e feminismo. Uma obra muito reflexiva e divertida ao mesmo tempo.

3 – Suíte Tókio, Giovana Madalosso

Esse livro me prendeu já na sinopse: Fernanda está vivendo um casamento entediante e trabalha com produção de série audiovisual. Ela se apaixona por uma diretora de arte durante o período de uma gravação. Paralelamente a isso, a babá Maju e a filha dela fogem de casa. Fernanda e o marido demoram para se dar conta sobre como isso aconteceu. O livro alterna a voz narrativa de Fernanda e de Maju. Além de ter um enredo muito interessante, o livro traz uma narrativa muito bem costurada. Suíte Tókio, lançado em 2021 é um livro bem redondinho, bem feito e não decepciona. 

4 – A vegetariana, Han Kang

Eu não conhecia nada de literatura coreana e esse livro foi uma excelente introdução. Dividido em três partes e discutindo os tabus familiares, traz o processo de Yeonghye, que começa a ter sonhos perturbadores e resolve virar vegetariana. Na primeira parte temos a virada para o vegetarianismo narrada pelo marido de Yeonghye, na segunda o foco é a obsessão sexual que o cunhado nutre por ela e na terceira, a protagonista está internada em um hospital psiquiátrico e aborda principalmente a relação dela com a irmã. É um livro que traz o erotismo de um jeito bastante perturbador, porém, muito interessante.

5 – A longa noite de Bê, Fernando Ferrone

Gosto de muitos elementos neste segundo romance do Fernando Ferrone: a experimentação da linguagem na voz narrativa, a universidade pública como espaço social, jovens se aventurando na produção e comércio de drogas e personagens femininas fortes. Um livro muito envolvente.


Menções honrosas

Torto Arado, Itamar Vieira Junior

Foi uma das melhores leituras do ano, mas como já indiquei esse livro na lista do  primeiro semestre e já falamos dele por aqui, faço essa menção para enfatizar: leia sim!

Sula, Toni Morrison

Essa leitura ainda não terminei, entretanto, havia muito tempo que eu tinha vontade de ler a Toni Morrison e em 2021 finalmente aconteceu. E estou achando impressionante a precisão literária dela, realmente, um grande presente de fim de ano!


Arman Neto

1 – Garota, mulher, outras, Bernardine Evaristo

Esta foi a primeira leitura que fiz no ano e seguiu sendo como uma das melhores, se não a melhor. Bernardine Evaristo é uma grande escritora e isso fica evidente em seu romance. Como escrevi aqui para o Impressões de Maria, “ao tratar de questões tão caras e sensíveis ao nosso tempo, aliado a um trabalho de linguagem excelente, Bernardine Evaristo faz de seu Garota, mulher, outras um trabalho vigoroso que rouba a cena no universo literário atual”. Você pode ler a resenha completa clicando aqui. 

2 – Luxúria, Raven Leilani

Uma das coisas que mais me chamaram a atenção em Luxúria foi a coragem de Raven Leilani. Ao longo da leitura, fiquei com a impressão de que muitos escritores se privariam de escolhas que ela faz. Contudo, o que mais gostei foi da construção que ela faz de Eddie, personagem central do livro, fugindo tanto de arquétipos como de estereótipos. Mas Luxúria não é só isso. Também é um olhar para dilemas e problemas do hoje a partir da perspectiva de uma jovem que se encontra entre a resignação e a busca por uma saída da bagunça que encontra a sua vida. Também escrevi a respeito do livro para Impressões de Maria. Você pode ler a resenha aqui, ó.

3 – Jazz, Toni Morrison

Antes de mais nada, preciso ser honesto: enquanto escrevo este breve parágrafo, ainda não terminei a leitura de Jazz. Estou na metade do romance. Acontece que até aqui, Toni Morrison já me prendeu o suficiente tanto pela qualidade sempre exuberante de sua escrita quanto pelos mistérios e intrincamento presentes na narrativa. Devido ao meu histórico com a Morrison mais a experiência com a leitura do romance até agora, acho muito difícil que eu não o coloque nas minhas melhores leituras do ano.

4 – Torto arado, Itamar Vieira Junior

Assim como nas nossas listas de melhores leituras do primeiro semestre, ponderei um bocado se colocaria Torto arado no meu top 5 ou não. O motivo foi o mesmo: tenho um baita problemas com o hype e como sempre, ele atrapalhou a minha experiência com o romance. Mas isso não quer dizer que eu não tenha gostado. Pelo contrário! E até por isso – e também reverberando aquele ditado popular que diz que “contra fatos não há argumentos” – acho que ele merece um espaço na minha lista. Como disse lá trás, “aliando boa escrita com uma narrativa das mais cativantes, é muito difícil não admirar esse trabalho que vem conquistando o Brasil como há muito não se via. Sem contar que Bibiana e Belonísia são personagens que já nasceram para fincar seus pés na história da nossa literatura. Um dia retornarei ao romance com a distância necessária para poder apreciá-lo como ele merece.”

5 – Dragon Ball, Akira Toriyama

Durante a minha adolescência e início da vida adulta, tudo o que eu praticamente lia eram histórias em quadrinhos. Sempre gostei de tudo: super-heróis, novelas gráficas, tirinhas, mangás… Apesar de toda paixão, esse foi um amor que ficou de lado, sei lá por quê. E por muitos anos, li pouquíssimos títulos no formato. Acontece que lá por outubro eu decidi eu voltaria e mergulhar neste mundo que sempre me encantou e o meu novo ponto de partida se deu por Dragon Ball, do Akira Toriyama.

Eu já havia começado a leitura do mangá quando mais novo, mas não passei da décima quinta edição. Desta vez, consegui encarar todas as suas quarenta e duas. Foi muito divertido e descontraído. Tudo o que eu precisava. Simplesmente não conseguia parar de ler. Contudo, embora Dragon Ball seja leve e bem legal, há alguns problemas, como o assédio sexual contra mulheres como alívio cômico que vira e mexe aparece na série e é recorrente nas obras em quadrinhos japoneas. Ou seja, um problema que parece ser cultural e estrutural. E de longe, a pior coisa na série. Recomendo muito o texto que Karla Florencio escreveu para a respeito disso o Delirium Nerd.


Menções honrosas

Os viajantes, Regina Porter

Outra leitura que fiz no início do ano e de cara já cravou seu espaço nas melhores leituras de 2021. Um romance sobre a memória e os sacrifícios e que nos mostra como as escolhas são imprescindíveis para construir os rumos de nossas vidas. Caso interesse, também o resenhei para o Impressões de Maria. 

O carro do êxito, Oswaldo de Camargo

Oswaldo de Camargo é um nome importantíssimo para a literatura brasileira e isso deve ser dito em alto e bom som. E o relançamento de O carro do êxito não só vem em boa hora como corrobora a minha afirmação. Camargo é um grande contista e merece figurar o panteão dos grandes nomes do gênero no brasil. Você pode ler a minha opinião completa a respeito do livro na resenha que escrevi aqui para o Impressões de Maria.

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