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Mulher negra Não-ficção

A vida de Maya Angelou em “Eu sei por que o pássaro canta na gaiola”

Eu sei por que o pássaro canta na gaiola é uma obra escrita por Maya Angelou, publicada no Brasil pela editora Astral Cultural, com tradução de Regiane Winarski. Esta edição ainda conta com prefácio de Oprah Winfrey e apresentação de Djamila Ribeiro, que introduzem a escrita autobiográfica de Maya Angelou.

A obra é composta por 36 pequenos capítulos que materializam um ambiente cuidadoso, onde se pode tirar os sapatos para ouvir uma deliciosa contação de histórias. Com a leveza do vento, Maya Angelou registra em cada página por meio de uma linguagem muito particular, cada centímetro da profundidade das experiências de sua infância até sua adolescência. 

A linguagem utilizada pela autora muda na medida em que o tempo na história passa, imprimindo a sensação de uma escrita viva, que amadurece e que, ainda que seja um registo do presente falando do passado, há a transposição integral de percepções inocentes de uma infância pulsante.

Foto: Divulgação

A autora conta sobre sua curiosa relação familiar. Ela foi enviada junto com o irmão para morar com a avó e um tio no sul dos Estados Unidos. Ela descreve a relação quase que umbilical que desenvolveu com Bailey, seu irmão e companheiro de aventuras. Juntos explorariam um espaço completamente novo com diferentes regras sociais de convivência e estavam prontos para desbravar o desconhecido.

A autora desenvolve pacientemente as violências sofridas por ela através de um relato quase que cinematográfico, que possibilita a criação de imagens gerando muita tensão. Detalhista e clara, Maya Angelou percorre caminhos densos na sua escrita, o que guia o leitor em um ritmo imagético. Ela narra os fatos como se realmente fosse a criança ferida falando, traçando um panorama isento de maldade. Envolta pelo véu de ingenuidade, a escritora transpõe os sentimentos confusos de uma criança de 8 anos abusada sexualmente que não entendia exatamente o mundo que a cercava, mas que buscava dentro de si mesma respostas que pudessem auxiliá-la.

Angelou construiu seu nome na literatura por sua tamanha excelência e inteligência no uso das palavras e isso reflete em como sua obra é rica e personifica um abraço em tantas outras cicatrizes diárias que as mulheres negras vivenciam. Numa vida de histórias com dores tão amargas, a autora descreve situações difíceis com a simplicidade do atravessar uma calçada à outra. Alguns capítulos são mais emocionantes e agitados do que outros, o que traz equilíbrio para o livro como um todo. A obra se volta quase que em sua totalidade para os sentimentos da autora, para a forma com que ela enxergava a vida, o que resulta em uma narrativa muito tocante.

O pós leitura é o momento em que acontece o reverberar mais bonito da história de Maya Angelou, a profunda reflexão sobre o porque pássaros negros e resistentes ainda cantam todos os dias em suas gaiolas.

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