Publicado em 2021 pela Galera Record, Sangue dourado é uma fantasia jovem escrita por Namina Forna com tradução de Karine Ribeiro. Esse é o livro de estreia da autora que nasceu em Serra Leoa e aos 9 anos, mudou-se para os Estados Unidos.
Ao completar 16 anos todas as meninas de Otera devem passar pelo ritual de pureza, que tem como objetivo localizar as descendentes das Douradas, demônios que dominaram o Reino há muitos séculos, de modo que o ritual é um evento determinante para o futuro de todas.
No início da história conhecemos Deka, uma garota do povoado de Irfut prestes a passar pela cerimônia. Um ancião da comunidade verifica através de um corte, a cor do sangue de cada menina, se for vermelho só existem motivos para comemoração, porém se for dourado, a garota é considerada impura e condenada ao mandato de morte.
Deka está muito ansiosa com o ritual, pois é a sua chance de ser totalmente aceita em seu vilarejo, apesar de morar em Irfut desde seu nascimento, sua mãe era de uma província do Sul, por isso, a pele da menina é mais retinta, diferente das outras garotas do povoado. Além disso, a pureza de sua mãe nunca foi reconhecida, tornando ainda mais difícil se sentir pertencente.
No dia do Ritual, Irfut é atacada por criaturas chamadas de Uivantes Mortais e o sangue de Deka acaba se revelando dourado, assim ela é condenada ao mandato de morte e passa por várias tentativas de assassinato. Contudo, esse tipo de sangue confere força e resistência, tornando a portadora capaz de voltar da morte. Quando Deka pensa que já não existem alternativas, uma mulher misteriosa lhe faz uma proposta para ela se juntar ao exército do Imperador com o intuito de eliminar todos os Uivantes Mortais que assolam o reino, e após 20 anos de serviços essas meninas seriam consideradas puras e reintegradas na sociedade. Sem muitas opções, Deka aceita o desafio e ao longo de sua jornada irá descobrir muito sobre si mesma e suas habilidades.
A história apresenta um mundo onde os homens lideram tudo e as mulheres praticamente não possuem direito de escolha. Desde criança elas aprendem, através das sabedorias infinitas, como uma mulher deve se comportar: “Abençoadas são as mansas e servis, as humildes e verdadeiras filhas do homem, pois são imaculadas diante do Pai infinito”. A religião tem um peso enorme nessa sociedade, acontece porque os homens também a lideram, disfarçando o machismo e a violência extrema atrás de uma “doutrina”. Outro trecho do livro que expõe essa realidade: “Garotas não podem gritar, beber, andar a cavalo, ir para escola, aprender um oficio, aprender a lutar, andar sem a companhia de um homem – não podemos fazer nada que não tenha relação com ter um marido, uma família e lhes servir”.
Sangue dourado possui uma fantasia bastante interessante e a amizade que a autora construiu entre as meninas que integram o exército é muito rica, pois elas encontram conforto e lealdade umas nas outras, coisa que a maioria nunca teve. No entanto, o livro demorou um tempo para realmente prender minha atenção, o começo e o meio possuem uma narrativa lenta, por isso o fim acaba sendo corrido, apesar da protagonista demorar para entender algumas coisas que para o leitor acabam sendo óbvias. Ela também muda de assustada e resignada (devido a ter crescido em uma sociedade opressora) muito rápido. Ademais, o romance não é envolvente e o mistério da história acaba sendo fácil de ser descoberto. Contudo, no geral, ele trabalha assuntos como fanatismo, violência, opressão contra mulheres, amizade, entre outros e só isso já torna o livro interessante.