Maryse Condé nasceu em Guadalupe em 1937, é feminista, professora emérita de francês e filologia da Universidade de Columbia, e é autora de mais de 20 livros de diversos gêneros, mas este é o primeiro publicado no Brasil, com tradução de Natalia Borges Polesso e prefácio de Conceição Evaristo. Eu, Tituba: Bruxa negra de Salem foi escrito originalmente em francês e publicado em 1986.
A história se passa na Inglaterra por volta de 1692, ou seja, séc. 17. O livro é narrado em primeira pessoa por Tituba. Ela começa contando que nasceu de um estupro enquanto sua mãe era transportada de navio da Inglaterra para Barbados, que é uma país da América Central, e quando tinha 7 anos viu a mãe ser enforcada porque atacou seu dono enquanto este tentou abusá-la. Desse modo, Tituba foi expulsa das terras do senhor e foi criada por uma senhora chamada Man Yaya, que tinha o poder de se comunicar com os invisíveis, os espíritos daqueles que já tinham morrido. Man Yaya ensinou todos os seus conhecimentos para Tituba, e assim ela aprendeu sobre os poderes das plantas, sobre como escutar os elementos da natureza, o mar, o vento e o principal, aprendeu a se comunicar com os mortos.
Por um longo tempo Tituba ficou reclusa, longe de todos, até que um dia precisou sair de onde ela morava e encontrou outros negros escravizados que demonstraram ter medo dela, foi assim que aos poucos ela foi retomando contato com outras pessoas e numa dessas conheceu John Indien, um escravizado que foi sua perdição porque Tituba ficou cega de amor e abandonou sua condição de mulher livre para viver com John Indien na condição de escravizada. Sua vida mudou muito e uma dessas dessas mudanças foi se mudar para Boston, nas colônias da América bem longe de seu país natal.
É em Boston que Tituba toma uma decisão que a assombrará para sempre, porque para uma mulher escravizada, a maternidade não é uma notícia que traz felicidade. Seu novo dono é uma padre fervoroso, que oprime toda sua família e acha que está fazendo a vontade de Deus. Ele é enviado para cuidar de uma igreja no vilarejo de Salem e lá há muitos boatos sobre mulheres que são acusadas de praticarem bruxaria. Mas se a gente for parar para pensar, o que é considerado bruxaria na verdade é uma criminalização da pobreza ou de mulheres que não se encaixam no que a igreja católica queria delas.
Enquanto eu fazia essa leitura pensei muito em três outros livros: Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves, pelos embates que Tituba tem com uma das senhoras, pelo tanto que Tituba viaja, por ser uma narrativa em primeira pessoa de uma mulher negra escravizada, por ser uma romance histórico que nos dá ideia de uma época; O crime do Cais do Valongo, de Eliana Alves Cruz, por conta dos elementos sobrenaturais, do invisível que o olho nu não vê, mas que não significa que não exista, que preciso ter uma sensibilidade para enxergar; e Calibã e a Bruxa, de Silvia Federici, por ponto questão histórica da bruxaria.
Gostei muito de Eu, Tituba: Bruxa Negra de Salem porque é uma leitura nos permite conhecer um pouco do que foi a escravidão na América Central e principalmente, sobre esse período do século 17, em que muitas mulheres morriam enforcadas acusadas de bruxaria. Mostra o que as mulheres estão sujeitas simplesmente por serem mulheres e o quanto a Igreja foi responsável por muitas injustiças.
Tituba é poderosa e Marysé Condé merece ser lida.
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