Desmascarando a masculinidade tóxica em “Seja Homem”, de JJ Bola

JJ Bola é um congolês radicado em Londres, que atua como educador, escritor e poeta. Aqui o Brasil saiu recentemente seu livro Seja homem: A masculinidade desmascarada, publicado pela editora Dublinense, com tradução de Rafael Spuldar e prefácio do Emicida. Este é um livro não ficcional em que o autor vai partir de experiências vividas por ele para expor o quanto a atual construção de masculinidade é ultrapassada, limitada e limitante, completamente danosa para a saúde mental dos homens e o quanto isso também influencia nos seus relacionamentos e no seu modo de agir e estar no mundo.

A discussão sobre masculinidades é uma conversa mais do que necessária não só por uma questão de saúde psicológica, mas também porque partindo do pressuposto de que vivemos em uma sociedade patriarcal, o comportamento dos homens têm influência direta na vida das mulheres. Uma das questões postas no livro é justamente o que é ser um homem e tem a ver com o exercício do patriarcado, que resulta numa construção de masculinidade. 

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Uma coisa que é importante ter em mente é que o conceito de masculinidade não é algo fixo, é algo que está em constante mudança e que varia de local para local, é algo que é atravessado por construções sociais e culturais, mas há algumas crenças a esse respeito que se repetem em diferentes sociedades. É isso que torna possível que um homem congolês radicado em Londres elenque alguns mitos e nós que somos brasileiros conseguimos identificar essas suposições na cultura brasileira.

Logo no primeiro capítulo o autor faz uma lista de 9 mitos que as pessoas entendem do que é ser um homem e eu quero trazer 4 desses mitos para cá para refletirmos juntes. Vamos começar pelo mito do HOMEM DE VERDADE: quantas vezes não já ouvimos a expressão “um homem de verdade é quem toma conta dos filhos”, ou “um homem de verdade é quem paga o jantar” ou coisas do tipo, mas esse é só um estereótipo que reforça a ideia de que a sociedade está separada por uma estrutura patriarcal em que os homens se veem, se colocam e são postos como os provedores ou responsáveis por há atitudes que precisam ser feitas coisas que na verdade não precisam ter essa separação. Não existe isso de homem de verdade.

O outro mito é o do SEJA HOMEM. Com certeza vocês já ouviram ou já disseram para algum menino “seja homem, não chore”, ou “seja corajoso, seja homem”. E isso é tão violento em um nível de violência psicológica porque frases assim vão minando a sensibilidade desses garotos durante a infância, que desde cedo serão ensinados que homens não choram, tendo que reprimir suas lágrimas para atender a um ideal do que é ser homem que beira a insensibilidade. Homens também podem chorar, isso não te faz mais ou menos homens, faz parte do ser humano expressar as emoções por meio do choro. E esse é um mito que tem a ver também com o de que HOMEM NÃO CHORA, e que chorar é coisa de mulherzinha e não é verdade.

E por fim, o último mito que quero trazer aqui é o de que OS HOMENS SÃO MAIS FORTES DO AS MULHERES, como se ter força física ou mesmo emocional estivesse relacionado com o gênero da pessoa, mas não está. É claro que existe uma diferença biológica entre homens e mulheres, mas isso não faz com que os homens sejam mais fortes do que as mulheres, até porque a força é uma variável heterogênea. 

Gostei muito de ler esse livro e poder me encantar com a sinceridade e a forma subjetiva e ao mesmo tempo objetiva com que o autor expõe seus pensamentos. Achei que é um livro bem completo e que pode ser uma leitura muito construtiva para quem está em busca de entender mais sobre masculinidades. 

Gosto que o autor faz com que a discussão sobre masculinidade seja bem ampla, então ele vai falar sobre masculinidade e amor, sobre masculinidade e política e o quanto esse tema está relacionado, vai falar sobre igualdade de gênero e feminismo, então uma discussão que ele traz à tona é sobre os homens trans e onde eles ficam nessa concepção de masculinidade que é muito excludente. E na questão do feminismo ele referencia feministas negras que o ajudaram entender o que é o feminismo e qual sua importância para o s homens. Um dos livros que ele cita é O feminismo é para todo mundo, da bell hooks, que eu indico muito a leitura. O autor também vai abordar a construção da masculinidade nesses tempo de redes sociais, e também a presença dos homens nos esportes. No final ele dá alguns conselhos para a prática de uma masculinidade menos danosa e menos tóxica.

Acho que é um desses livros deveria ser leitura essencial para todos, principalmente os homens, que são o público-alvo principal.

                              


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Maria Ferreira

Maria Ferreira é uma mulher negra baiana. É criadora do Clube Impressões, o clube de leitura de livros de ficção do Impressões de Maria, e co-criadora e curadora do Clube Leituras Decoloniais, voltado para a leitura e compartilhamento de reflexões sobre decolonialidade. Também escreve poemas e tem um conto publicado no livro “Vozes Negras” (2019). É formada em Letras-Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo. Seus principais interesses estão relacionados com temas que envolvem literatura, feminismo negro e decolonial e discussões sobre raça e gênero. Enxerga a literatura como uma ferramenta essencial para transformar o mundo. 

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