Ilustração de Anna Sudit. |
O que é empoderamento, de Joice Berth, é o terceiro volume da coleção Feminismos Plurais, que é coordenada pela filósofa Djamila Ribeiro e publicado pela editora Letramento.
Estabelecido o sentido de empoderamento, a autora faz uma retomada histórica do surgimento e uso desse termo ao longo do tempo. Para isso, cita a pesquisadora Rute Baquero, principal nome ao se pensar em Teoria do Empoderamento e a acadêmica Barbara Bryant Solomon que aplicou a Teoria em sua área de atuação no serviço social, voltada para grupos oprimidos. A partir daqui, Berth então relembra o educador brasileiro Paulo Freire e sua Teoria da Conscientização, que foi precursora da Teoria do Empoderamento.
O principal assunto abordado no segundo capítulo é o feminismo negro e o quanto mulheres negras sempre adotaram uma postura de resistência e enfrentamento, sempre pensaram em “estratégias de enfrentamento ao sistema racista e redes de solidariedade” (p.73). Então percebemos que ao longo da História as mulheres negras sempre estiveram pensando em estratégias de empoderamento para a comunidade, de modo que esse certamente não é um conceito novo para elas.
Nesse capítulo, novamente a autora recupera Paulo Freire para abordar o quanto bell hooks foi influenciada por seus pensamentos para desenvolver o que é chamado de “pedagogia interseccional”. Berth destaca o quanto as ideias do pensador estão presentes no livro Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade, da teórica estadunidense.
Joice Berth |
A forma como a estética influencia no empoderamento é discutida no terceiro capítulo. Para tal, a autora recorre ao conceito de belo e de como muitas vezes o que enxergamos como belo pode ser fruto de uma percepção condicionada por uma sociedade que privilegia certos padrões de beleza e exclui outros. Nesse sentido, empoderamento nessa área, quando se pensa em pessoas negras, tem muito mais a função de resgatar a beleza que sempre fomos condicionados a não enxergar em nós ou incentivar nossa capacidade de nos vermos como belos também.
A autora detém-se em explicar como o cabelo de mulheres negras é alvo constante de ataques racistas, esteja ele alisado ou natural: “Parece-me então, muito coerente os discursos e narrativas de enfrentamento do racismo vigente que exaltam os cabelos como elementos de orgulho racial, pois amá-lo significa cuspir de volta na boca do sistema racista todas as ofensas, rejeições, exclusões que nos são direcionadas ao longo de toda uma vida” (p.95).
Portanto, o empoderamento pela estética é individual, mas acaba refletindo diretamente no coletivo, principalmente quando paramos para pensar sobre questões de representatividade. No entanto, a autora destaca que só a valorização da estética negra não é suficiente para tornar um indivíduo empoderado se o mesmo não tiver consciência racial crítica, principalmente em relação ao sistema capitalista, que ao vislumbrar potenciais clientes no público negro, começa a voltar-se para esse público, mas visando somente o lucro e não o empoderamento de fato.
Em um momento anterior a autora havia salientado que é preciso tomar cuidado para não cair no esvaziamento de sentido do termo: “O empoderamento enquanto prática social necessária no ápice de seu cooptação e distorção tem sido literalmente vendida sobretudo por aqueles que almejam manter o status quo formador de acúmulos e desequilíbrios sociais. Esse fenômeno social cria clãs micro-opressores que não tem condições psicológicas para conduzir outros indivíduos pelos caminhos processuais de autodescoberta sociopolítica, simplesmente porque nem ao menos buscaram erradicar dentro de si mesmos as internalizações perversas do sistema de opressão a que estão expostos” (p.83) (grifos da autora).
Essa publicação e coleção da editora Letramento certamente é um marco para a sistematização e entendimento de conceitos aparentemente comuns, mas que possuem uma carga mais profunda de significado. O melhor de tudo é que são livros acessíveis, tanto no preço quanto na linguagem, que mesmo sendo acadêmica, não deixa de ser compreensível.
*Exemplar cedido em parceria com a editora. Acesse o site para garantir o seu, clicando aqui
4 respostas
Oi Maria, lindona. Faz tanto tempo que não venho te visitar. Que bom que vim quando tem um post tão incrível quanto esse. Menina, que livro, ein. Acho que é o primeiro que vejo que fala tão diretamente sobre o que é o empoderamento. Deve ter sido uma leitura enriquecedora. Já quero.
Um beijo enorme
Vidas em Preto e Branco
Olá, tudo bem?
Não conhecia a obra, e gostei de conhecer um pouco lendo sua resenha. Sei o "superficial" sobre empoderamento, mas esse parece trazer um conhecimento melhor. Deve enriquecer mais e ajudar quem ainda acha que isso é "mimimi". Anotei a dica, e espero ler em breve para conhecer e entender melhor.
Beijos.
que série linda, quero muito ler!
Só pelo titulo já sei que vou amar, pois sou a rainha das causas sociais e do empoderamento kkkk esse tipo de leitura muda a gente de uma forma que não da nem pra descrever né?!
Adorei sua resenha, ficou linda!
Oiii, não conhecia o livro e ao ler a sua resenha percebi que ainda sei muito pouco sobre o tema, parabéns pela resenha e com certeza vou ler o livro!