0
Ficção Cientifica Literatura estrangeira

O comportamento humano em “Despertar”, de Octavia Butler

Publicado pela editora Morro Branco em 2018, Despertar é o primeiro livro da trilogia Xenogênese, uma ficção científica escrita por Octavia Butler, com tradução para o português de Heci Regina Candiani. A autora possui diversos livros publicados, como Kindred: Laços de Sangue e a duologia Semente da terra e foi ganhadora de prêmios importantes. Octavia Butler é considerada a Grande Dama da Ficção Científica e ela incorpora ao gênero da ficção científica questões de raça e protagonismo negro.

Despertar retrata uma Terra devastada por uma guerra que destruiu o planeta, tornando-o inabitável. O ser humano foi quase extinto, porém alguns foram salvos por uma raça alienígena chamada de Oankali. Esses seres (que lembram fisicamente nossos animais marinhos, já que são constituídos de muitos “tentáculos” sensoriais), levam os humanos que restaram para suas naves e ao longo de 250 anos cuidam para que a Terra se torne novamente habitável.

Já no início da história conhecemos Lilith, ela acorda em um quarto vazio e sabe que não é seu primeiro despertar, esse processo já ocorreu algumas vezes, acompanhado de uma voz que a faz diversas perguntas. Nos despertares anteriores, Lilith se recusou a responder, o que não deu certo, porém ela nunca viu seus salvadores e também não os considera heróis. Quando finalmente encontra um deles pessoalmente, sua aparência física lhe causa grande repulsa, no entanto, só depois de se acostumar com essas diferenças é que será liberada de seu quarto. 

Imagem: Reprodução

Ao longo da narrativa, endentemos que estes seres tem estudado o ser humano durante todos esses anos, acordando-os de tempos em tempos de uma “animação suspensa” e esperam que Lilith desperte outros, treinando-os para que juntos voltem a Terra e recomecem do zero, construindo abrigos, plantando seu próprio alimento, convivendo com animais, entre outras coisas que terão que aprender, já que o planeta está em condições muito diferentes do que estavam acostumados. Os Oankali estão dispostos a ensinar essas habilidades de sobrevivência, contudo Lilith descobrirá que eles não fazem isso de graça, tudo tem um preço.

Despertar é um livro cheio de mistério, que nos deixa muito curiosos ao longo da leitura. A própria protagonista demora para ter suas dúvidas respondidas. Os Oankali não mentem, mas omitem informações com a desculpa de que ela não está pronta para as respostas. Apesar de Lilith ter uma forte aversão no começo, ela se adapta rápido à convivência com os alienígenas, associei isso ao fato de que antes da destruição da Terra, ela fazia um curso de antropologia e diz em um trecho que escolheu esse curso porque ela queria estudar “Pessoas diferentes de alguma maneira. Pessoas que não fizessem as coisas do modo que fazíamos” e apesar dos Oankali serem uma raça diferente, acredito que essa vontade ajudou a personagem a se acostumar com algumas distinções.

O livro me fez pensar no quanto a aparência deles causa repulsa e medo no início e que em raros momentos os despertos conseguem sentir gratidão por terem sido salvos, alguns preferem morrer, ou voltar a “animação suspensa”. Tentei me imaginar vivendo essa situação, em que o Planeta foi destruído e fomos salvos por uma raça alienígena que nos ajuda em tudo, até na cura de doenças graves, como o câncer que a personagem principal possuía quando foi resgatada. Mesmo refletindo bastante, não consegui chegar a uma conclusão final, apesar de estar inclinada a achar que apenas aceitaria e seguiria em frente.

Despertar é um livro que analisa muito o comportamento humano, também é interessante a discussão que traz quando quem lidera o primeiro grupo a voltar para Terra é uma mulher, não um homem e como o coletivo reage a isso. No mais, ele prende a atenção do leitor e deixa uma vontade enorme de saber os próximos acontecimentos.

Você poderá gostar

Nenhum comentário

    Deixe um comentário